Mikael Blomkvist acreditava que a missão do jornalista econômico era investigar e desmascarar os tubarões financeiros capazes de provocar crises de juros e de especular com o dinheiro do pequeno poupador. Acreditava que sua verdadeira missão jornalística era investigar os donos de empresa com o mesmo zelo implacável que os jornalistas políticos vigiam o menor passo em falso dos ministros e parlamentares. Jamais ocorreria a um jornalista político transformar em ícone um chefe de partido, e Mikael tinha dificuldade em entender por que tantos jornalistas econômicos, dos mais importantes veículos do pais, estavam prontos a elevar medíocres à categoria de vedetes do showbiz.
O texto acima reproduz um trecho do romance “Os homens que não amavam as mulheres”, de Stieg Larsson (ed. Cia. da Letras). A obra, parte da trilogia Millenium, é de 2004 e seu cenário é a Suécia, nação a cujo grau de civilização aspiramos chegar um dia.
A história é ficcional mas foi escrita por um combativo jornalista econômico, que entendia em profundidade do que estava falando, e o panorama em que ela se desenvolve é muito real. Até parece a reconstituição histórica dos bastidores que levaram o mundo à atual crise. Em alguns aspectos, parece que estamos tratando do Brasil o que comprova que, pelo menos em termos de falcatruas, poderíamos engordar o G7. Longe daqui, aqui mesmo. Fica a observação para uma reflexão de fim de semana...