quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O céu de Suely, o inferno de todos nós



Assisti, tardiamente, ao filme “O Céu de Suely”, com direção de Karin Aïnouz e, por esses caminhos tortuosos da mente, dele me lembrei ao reler meu post de ontem.

Adorei esse filme. Primeiro pelo desempenho soberbo dos atores, melhor dizendo, das atrizes, com uma interpretação tão verossímel que parece estarmos vendo um documentário.

O filme é cru, rudemente cru. Cenografia, fotografia, ritmo, tudo muito áspero como uma parede no emboço. Não há trilha sonora. A música só entra quando presente na ação, faz parte da cena, não a emoldura.

As cenas de sexo nada têm de eróticas, pelo contrário, são frias, objetivas como necessidades fisiológicas. “O Céu de Suely” não facilita nada para o espectador, afasta-o ao não permitir envolvimento com nada do que ocorre na tela. Não encanta, não arrebata, não emociona. É brechtniano.

Vi ali uma obra cheia de autenticidade, sem recorrências à estética padrão hollywoodiana ou ao cult movie europeu. Nada tenho contra ambos (têm seu tempo, lugar e propósito), mas muito tenho a favor da busca de linguagens e estéticas próprias, algo de que carecemos na comunicação do marketing promocional.

Falta-nos o arrojo de experimentar. Isso me fez recordar do post de ontem e, nele, da citação de Fernando Faro, que ousou fazer tudo isso logo num veículo sagrado como a televisão.

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