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O dr. Drauzio Varella, no artigo “A intuição da minha avó” (Folha Ilustrada de 22 de novembro), chama nossa atenção para o fato de temos na mente mecanismos adaptativos inconscientes que nos permitem tomar decisões rápidas, enquanto nosso cérebro está entretido no exercício de funções mais nobres. De uma forma menos científica, isso significa que parte de nossa mente opera em modo automático, ou seja, age sem pensar, de bate pronto. Não há nada de errado nisso. Não fosse assim, não executaríamos o sem-número de atividades para as quais não há tempo para raciocinar.
Ocorre que esse nosso eu automático não se limita às atividades reflexas (dirigir um carro, desviar-se de algo que vem súbito em nossa direção). Ele age também em outras esferas de decisões, de modo que, em certa medida, podemos ser estranhos a nós mesmos.
Continuando com a explicação do dr. Drauzio: Na verdade, somos inconscientes de nossa própria inconsciência. Por isso, quando convidados a explicar nossas reações, quase nunca respondemos: "Não tenho a menor idéia". Ao contrário, vamos atrás de argumentos que façam sentido para justificá-las.
Contrariando a psicologia clássica, que afirma que tomamos decisões a partir do processamento de informações objetivas, elas (as decisões) podem ocorrer também a partir de associações mentais automáticas, aquelas que nos vêm à mente de forma “espontânea”, sem nosso controle racional.
As associações mentais automáticas teriam, portanto, a capacidade de distorcer (ou dar uma leitura própria) às informações objetivas como forma de justificar logicamente uma decisão tomada a priori, com base em critérios inconscientes.
Entender e identificar esses processos mentais automáticos é o desafio da nova psicologia e algo que poderá vir a ser muito útil para o planejamento do marketing, livrando-nos da estreiteza das ponderações objetivas das pesquisas quanti e quali, que são o cemitério do novo.