Vestígio da história da propaganda, deve haver ainda em algumas agências aquelas enormes pastas de couro, made in Omar, usadas para levar layouts. Eram tão imensas que baixinhos como eu tinham que carregá-las, de forma cansativa e dolorosa, com o braço flexionado para que não esbarrassem no chão. E por que tão grandes? Para poderem portar os layouts em tamanho natural (cartazes, páginas duplas de jornal) ou do maior formato possível, quando o original fosse um outdoor, por exemplo. Cheguei a ir ao Rio, embarcado num Electra II, carregando toda a Família Dinossauro em peças recortadas para o PDV, que vazavam para fora da pasta, sem contar o floor display do Dino, o patriarcassauro, com cerca de 1,80m de altura.
Todo esse gigantismo tinha o objetivo de impactar o cliente para ressaltar a idéia, o conceito e o design gráfico aplicado às peças. Como não havia os meios digitais de elaboração, produção e apresentação (projeção) de layouts, o jeito era mesmo trabalhar na escala 1:1.
Um belo dia o computador entrou em nossa vida de comunicação e ganhamos uma ferramenta como jamais tínhamos sequer sonhado. Como pudemos sobreviver sem ela? Devem pensar todos os que viveram os tempos ASJ e DSJ (antes e depois de Steven Jobs). Os ganhos foram enormes em todos os sentidos: mais recursos para planejar, criar, apresentar e produzir os trabalhos.
Mas... (e sempre tudo tem um mas com reticências) junto com as coisas boas vieram outras que, mal usadas, passaram a agir contra nós mesmos. Dois casos, o e-mail e a possibilidade de pesquisa pela internet, se enquadram nessa ressalva.
O e-mail é usado como forma de comunicação entre colegas que estão a metros de distância um do outro e de transferência de responsabilidade (você não leu o e-mail avisando que o prazo era pra hoje?). Esse é o aspecto light do problema. O pior, e isso é cada vez mais comum, é quando o layout do cartaz, do folder com 12 páginas e do material de PDV é enviado por e-mail para aprovação. O gigantismo de ontem transformou-se no minimalismo de hoje, não por concisão, mas por preguiça mesmo ou por falta de compromisso com resultados.
A pesquisa pela internet, por sua vez, transferiu todo o trabalho de levantamento de dados para quem deles precisa. Quando muito informa-se a URL do site do prospect em concorrência. Ou seja, não se desenvolve, em conjunto na agência, uma cultura do job, que não pode ser alcançada somente com as conclusões dos relatórios, mas precisa do raciocínio que envolveu sua elaboração.
O mesmo galho que nosso ancestral pré-histórico empregou para derrubar uma fruta no alto da árvore ele deve ter usado como clava para abater um desafeto.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
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Um comentário:
Marinho, nem me fale...Seu post me inspirou a escrever também a esse respeito sob a perspectiva do impacto dessas coisas na rotina dos Atendimentos. Te garanto que o e-mail complicou muito a vida quando se trata de apresentar trabalhos. Adoraria poder provar isso, mas tenho a nítida impressão de que nunca houve tanto re-trabalho nas agências. Pra mim, nada substitui o olho no olho, a oportunidade de você imprimir seu entusiasmo e credibilidade ao apresentar um trabalho. A chance de defender o que acredita, de impor respeito, de representar sua agência de forma digna. De não permitir que o que a agência levou uma semana para resolver seja demolido em minutos por alguns ruídos decorrentes dessa tecnologia mal empregada. Numa boa, sou mais imprimir o anúncio (não precisa montar,não), pegar um táxi e visitar meu cliente (e desligar o celular quando começar a reunião).
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