segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Nós, os negros

A vitória de Obama tem suscitado analogias germinadas nessa nossa humana teimosia em cultivar a esperança por mais prolongada que seja a estiagem.

Fernando Gabeira, candidato vitoriosamente derrotado nas eleições para a prefeitura do Rio, observou: “Estou convencido de que a análise política de Obama foi um fator decisivo. Ele concluiu que um tempo estava se acabando, que as querelas dos anos 60 chegavam ao esgotamento. Viu o país dividido entre republicanos e democratas, assim como outros pequenos impasses que o debate nacional estimulava. Resolveu construir pontes. Essa decisão, para mim, foi sábia. De que adiantam debates estéreis, em que se volta para casa com uma sensação de superioridade moral, mas nenhum avanço prático?”.


Querelas, debates estéreis, superioridade moral. Essas expressões iluminaram alguns nichos nessa mina escura e funda que é minha cabeça.


A querela é a já antiga que nos segrega ao gueto do BTL. Somos os negros no mundo branco da comunicação do marketing. Embora toda uma novíssima geração tenha assumido o marketing promocional e o mercado de agências se desenvolvido muito, o apartheid continua. Assim como as querelas dos anos 60 citadas por Gabeira, a nossa também já chegou a um ponto de esgotamento e precisamos mudar o enfoque do enfrentamento para, como Obama, lançarmos as pontes que efetivamente viabilizarão a comunicação plena que ainda apenas ensaiamos.


Os debates estéreis ficam por conta da briga pela primazia da idéia, do peso de cada parte na construção da solução de comunicação, da relação job x cliente, da justiça da remuneração e muitas outras picuinhas, incluindo posts como este.


Esgrimir com argumentos, defender posições, ganhar a discussão com a rapidez e a consistência do raciocínio nos faz ter razão e com isso nos sentimos moralmente superiores. Mas a quê?


O discurso de Martin Luther King, "I have a dream", é uma bela peça de retórica que tem e terá para sempre seu lugar na história, mas o mundo virou uma página e com ela, tudo indica, concluiu mais um capítulo. É tempo de seguirmos o exemplo e sermos contemporâneos.