segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Eu, robô?

Parafraseando William Shakespeare, posso dizer que há mais mistérios entre o consciente e o inconsciente do que sonha nossa vã psicologia.

O dr. Drauzio Varella, no artigo “A intuição da minha avó” (Folha Ilustrada de 22 de novembro), chama nossa atenção para o fato de temos na mente mecanismos adaptativos inconscientes que nos permitem tomar decisões rápidas, enquanto nosso cérebro está entretido no exercício de funções mais nobres. De uma forma menos científica, isso significa que parte de nossa mente opera em modo automático, ou seja, age sem pensar, de bate pronto. Não há nada de errado nisso. Não fosse assim, não executaríamos o sem-número de atividades para as quais não há tempo para raciocinar.

Ocorre que esse nosso eu automático não se limita às atividades reflexas (dirigir um carro, desviar-se de algo que vem súbito em nossa direção). Ele age também em outras esferas de decisões, de modo que, em certa medida, podemos ser estranhos a nós mesmos.

Continuando com a explicação do dr. Drauzio: Na verdade, somos inconscientes de nossa própria inconsciência. Por isso, quando convidados a explicar nossas reações, quase nunca respondemos: "Não tenho a menor idéia". Ao contrário, vamos atrás de argumentos que façam sentido para justificá-las.

Contrariando a psicologia clássica, que afirma que tomamos decisões a partir do processamento de informações objetivas, elas (as decisões) podem ocorrer também a partir de associações mentais automáticas, aquelas que nos vêm à mente de forma “espontânea”, sem nosso controle racional.

As associações mentais automáticas teriam, portanto, a capacidade de distorcer (ou dar uma leitura própria) às informações objetivas como forma de justificar logicamente uma decisão tomada a priori, com base em critérios inconscientes.

Entender e identificar esses processos mentais automáticos é o desafio da nova psicologia e algo que poderá vir a ser muito útil para o planejamento do marketing, livrando-nos da estreiteza das ponderações objetivas das pesquisas quanti e quali, que são o cemitério do novo.

2 comentários:

3ernardo Tavares disse...

Como identificar esses processos?

Traçar uma relação entre as escolhas e estilo de vida pode ajudar a prever decisões e descobrir o fruto desses processos mentais automáticos?

Não sei... mas gostaria.

Legal o tema!

Marinho disse...

Tavares, nao havia pensado nessa possibilidade mas sua observação procede. Veja abaixo, com mais infrmações, os comentários do dr, Drauzio Varela que serviram de base para este post:

Psicólogos da Universidade de Pádua acabam de publicar na revista especializada "Science" um estudo no qual avaliam os mecanismos envolvidos nas tomadas de decisão, os autores estudaram as diferenças existentes entre as associações mentais automáticas e os conceitos elaborados de forma consciente diante de um mesmo fato: estar a favor ou contra a controversa ampliação de uma base militar norte-americana na cidade de Vicenza (Itália).
Associações mentais automáticas foram definidas como aquelas que vêm à mente sem haver intenção, difíceis de controlar, e que podem ocorrer sem que tenhamos consciência delas.
Com a ajuda da informática, os autores avaliaram as diferenças entre as atitudes associadas ao automatismo e aquelas tomadas como fruto do pensamento racional, elaborado nos domínios do consciente.
Os resultados revelaram existir divergências entre os indivíduos que a princípio se declararam a favor ou contra a ampliação, e os outros, indecisos.
A aplicação dos testes de associações mentais automáticas entre os indecisos deixou claro ser possível antecipar a decisão que tomariam no final. O indeciso já sabe o que fará, mesmo que se considere conscientemente confuso e incapaz de decidir.

Associações mentais automáticas têm o poder de distorcer as informações novas, de modo que elas se adaptem à escolha já realizada, sem que tenhamos consciência delas.