sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O splash envergonhado

(Este post é dedicado aos amigos e diretores de arte Pepe Fernandez e Érico Adachi, que seguem comigo na cruzada contra as marcas promocionais).

Há tempos venho tentando chamar a atenção do pessoal envolvido em ações promocionais para a automatização das soluções. Na prática, esse agir sem pensar significa determinar “o que fazer” antes de ter o “por que fazer”.


Saca-se de um cinturão de utilidades à la Batman um recurso do kit promocional e, numa só tacada, está resolvido o briefing, o brainstorm e a linha criativa. São muitas as atitudes (ou vícios) que se enquadram nesse caso, mas, devido ao espaço preciso de um post, vou tratar, por enquanto, da inexorável “marca-da-promoção”.

Você já se perguntou se em todas as vezes que se comunica uma ação promocional é mesmo necessário criar uma marca-tema? Será que ela é sempre necessária? Ela realmente ajuda na tarefa de comunicação ou esse é um procedimento-padrão? Provavelmente a resposta para essas questões é um rotundo “não”.

Comunicação de marketing é, antes de tudo, foco. Escolha uma só mensagem (ou condense várias num só signo) e fale, fale, fale “mantricamente”. Aliás, muitos analistas chegam a observar que os grandes autores contam sempre a mesma história vestida com diferentes roupagens.

Mas como ter foco se já começamos o processo de comunicação com a obrigatoriedade de criar um elemento que vai competir com outros tantos pela atenção do consumidor? Ah, mas a função da marca é justamente dar foco, sintetizando todo o approach da ação, responderão alguns. Na prática é exatamente o contrário que acontece: a marca é ao mesmo tempo uma “sacada” e uma ilustração que pouco, ou nada, diz do apelo promocional.

Na verdade a marca promocional é a evolução darwiniana do splash. Lá pelos anos de 1950 as promoções eram anunciadas com splashs pontudos que tinham a missão de representar graficamente um grito. Assim como os acústicos, esses tinham por objetivo quebrar a harmonia da narrativa e chamar a atenção para si.

Como geralmente as promoções eram feitas a partir do trabalho de comunicação do produto ou serviço, mais necessário se tornava o tal do splash para distinguir as comunicações e dar à mensagem um caráter de urgência devido ao, em geral, brevíssimo tempo de duração de uma ação promocional.

A partir do final da década de 1960, com o salto no apuro gráfico ocorrido no período, o splash passou a ganhar novas formas, num processo evolutivo que resultou na marca-tema como conhecemos hoje. Houve evolução, mas o DNA continua sendo do splash. Ou seja, a marca promocional é, no fundo, um splash envergonhado, constrangido por sua origem de pichação gráfica.

Está nesse fato grande parte da responsabilidade pelos layouts com excesso de apelos visuais, carregados de adornos gráficos que podem (e devem!) ser bonitos, modernos visualmente, mas assemelham-se a maracás de reisado, com seus fitilhos multicoloridos, espelhos, vidrilhos, lantejoulas e bordados.

É preciso considerar ainda que toda marca, seja ela do que for, precisa ser construída, precisa de branding, coisa que não é compatível com a urgência da comunicação das ações promocionais. Repetindo o que já foi observado mais acima, o breve período de uma campanha promocional, mesmo se esse breve forem meses, mal dá tempo de trabalhar o awareness da ação, quanto mais conceituar uma marca.

Por outro lado, acho que a marca é imprescindível em programas promocionais, ou seja, em ações seriadas, como os eventos proprietários do tipo TIM Festival, SKOL Beats, NOKIA Trends e outros do gênero. Aí sim justifica investir num trabalho de branding que irá facilitar a comunicação nas futuras edições do programa. E, atenção, note que, nos exemplos que pincei como os mais evidentes em minha memória, nenhum tem “sacadinhas”, todos carregam a marca proprietária na composição do nome e tem o design mais limpo e básico possível, o que permite realizar diferentes campanhas, com diferentes approachs a cada edição.

Lembro de uma campanha promocional da Shell na Europa (acho que era na Inglaterra), na qual eram distribuídas fitas cassete de áudio com músicas de diversos gêneros para ouvir “on the road”. A peça, que vi num anuário, era um cartaz em P&B com um big close de um rapaz de perfil segurando uma concha junto ao ouvido, como fazemos para ouvir o “som do mar” (a marca era Shell, não se esqueçam!). Na parte inferior tinha o pack shot com a coleção de fitas cassete em quadricromia, junto a um título discretíssimo dizendo algo como “Ponha uma trilha sonora na sua viagem. Abasteça com Shell e ganhe fitas da coleção On the Road”. Só. Nada de marca, nada de nome da promoção, nada do nome “promoção”, nada de enfeites, apenas o necessário e forte apelo para despertar uma ação no consumidor.

Como cantavam filosofando o menino Mogli e o urso Balu: “Somente o necessário, o extraordinário é que é de mais”. Less is more!

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