terça-feira, 18 de agosto de 2009

Processos de Gestão de Agência

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Desde o meu começo de carreira, sabia que nunca teria o perfil para trabalhar em empresas. Sou abusado demais, radical demais, informal demais.

Sempre gostei da idéia de trabalhar com calça jeans, camiseta e tênis. Poder chegar tarde. Participar dos eventos mais bacanas, concorrer a prêmios, enfim... Todo esse mundo da publicidade sempre me pareceu muito atrativo.

Alguns (ainda poucos) anos depois continuo gostando muito disso. De algumas coisas mais e outras menos. Mas confesso que sempre fiquei com um pouco de inveja com algumas coisas que se tem nas empresas. Remuneração é uma delas, mas não vou falar disso nesse post. É polêmico, longo e de difícil digestão.

Hoje, caí no blog da Julia Gil que fazia um desabafo e me identifiquei muito. Como não conseguiria falar pouco em um comentário e queria abrir essa discussão com os leitores do Promo Planners, resolvi fazer esse post.

Gestão de pessoas: uma coisa que parece simples como uma linha a mais no CV de quem quer impressionar um entrevistador, na verdade é mais importante e mais complicado do que se parece.

Isso porque no nosso mercado, a informalidade das agências ultrapassa o vestuário, a forma de conversar com seus colegas e acaba entrando em pontos onde a formalidade deve ser uma obrigação.

Começa mesmo no processo de seleção. Muitas vezes por pressa, falta de tempo, saco, experiência ou qualquer outra desculpa que usam, as pessoas optam por não conhecer todos os candidatos e resolvem fazer um processo seletivo informal. Avisam meia dúzia de gato pingado na agência que estão buscando um profissional assim e assado, essas pessoas passam a informação a seus contatos, reúnem 10 CVs, escolhem 3 para conversar e em uma semana o escolhido já está trabalhando na agência. Algumas vezes dão sorte e encontram verdadeiros talentos dessa forma, mas nem sempre é assim e aí para fazer o ajuste fica mais caro (tempo e dinheiro) do que se o processo seletivo fosse feito de maneira correta.

Outra coisa é o tratamento ao funcionário. Agências são empresas prestadoras de serviço onde a matéria prima mais importante é o recurso humano. Somos criadores, planejadores e produtores. Cada um em sua especialidade faz a diferença no processo. Uma pessoa insatisfeita, insegura ou com qualquer problema não produz como poderia o que e, assim, perde-se a qualidade da entrega. Costumamos ser tratados como meros operadores que muitas vezes não temos horário para entrar, mas também não temos para sair. E isso tem que ser entendido como natural. Abrir mão da sua vida pessoal para se dedicar única e exclusivamente para a agência. Devemos acreditar junto com a equipe, fazer sacrifícios em "fases" ou "momentos de dificuldades", mas muitas agências não fazem isso quando precisam realizar cortes de funcionários.

O turn over em agência é alto porque o processo de evolução na carreira é muito subjetivo. Nunca sabemos ao certo quais são os atributos necessários para ser promovido, ganhar mais responsabilidade e por conseqüência mais dinheiro. As grandes empresas têm avaliações completíssimas do desempenho de um funcionário que passa a ser avaliado pelos seus pares, seu superior e seus subordinados em diversos atributos que depois de tabulados são devolvidos a cada um com dicas e orientações para destacar pontos fortes e corrigir pontos fracos de um funcionário. Sabe-se que para ser promovido é preciso tempo de casa + boas notas em determinados atributos que são fundamentais para ocupar o próximo cargo.

Há uma certa horizontalização nos departamentos de agências que deixam pessoas confusas. "Se eu faço a mesma coisa que fulano, por que ele ganha o dobro do que eu?". Somos muitas vezes gestores em cargos, mas sem nenhum funcionário abaixo. Aí quando assumimos um departamento, não temos nenhuma experiência com o gerenciamento de pessoas que é, a meu ver, o maior desafio de um profissional. Saber inspirar os outros e fazer com que eles desenvolvam trabalhos tão bacanas ou até mesmo melhores do que você sozinho faria.
Essas e outras dúvidas que não são esclarecidas ficam como uma pulga atrás da orelha de um funcionário. E já que não temos perspectivas de crescimento, a mudança de agência é a única solução como promoção e evolução na carreira. Isso se deve também porque muitas vezes as agências passam a valorizar mais a prata de fora do que a prata da casa.

E dessa maneira uma agência perde ou não conhece grandes talentos.
Sim, porque são essas as pessoas que criam ações como Skol Beats, Ipod no Palito e muitos outros projetos que ganham prêmios estão aí. Se perguntando entre um job e outro como crescer nesse mercado, como entrar em uma agência grande ou até mesmo como ganhar mais dinheiro para viver melhor.
No final são pessoas que transformam agências em agências do ano, que ajudam a conquistar mais clientes e encantar outros talentos que passam a admirar o trabalho desenvolvido e, por conseqüência, passam a desejar ainda mais trabalhar nessa agência.

Quem trabalha no mercado sabe que esse é um comportamento generalizado do mercado. E para quem está começando saiba que eu não vejo isso mudando em pouco tempo. Que vocês vão trabalhar em agências assim, mas que devem lutar para ter essas coisas que parecem besteiras, mas são super importantes, principalmente para quem está em começo de carreira.
Algumas vezes, por sorte, você pode cruzar com alguém bacana no mercado que sinta essa necessidade e faça isso porque considera importante, assim como eu. Já trabalhei e trabalho com algumas pessoas que pensam assim. Graças a eles pude perceber o quanto isso ajudou a me transformar em um profissional melhor.

Então peça por uma avaliação do seu trabalho, pergunte o que te falta para ter uma promoção e dê feedback para o seu chefe também. Isso é importante para ele saber se está inspirando a equipe ou perdendo cada um pouco a pouco.

Gostou do post? Concorda com o que escrevi? Não? Mande seu feedback. Isso é muito importante para mim. E tenho dito!

15 comentários:

Rô Rubini disse...

Mat...pode parecer sem graça meu coment, mas concordo 100% com vc!
penso igualzinho: lutar para ser melhor e conquistar coisas novas, (por menores que elas possam parecer) é essencial na nossa carreira louca de agência...
to com vc nessa! ;)
bjos

Bel disse...

Mat, seu post está excelente, principalmente porque pontua, racionalmente, as práticas tão corriqueiras das agências (e tidas como naturais) que não contribuem para o desenvolvimento das pessoas e as desanimam.

Eu sou nova no mercado, como você sabe, mas já faço parte dessa pressão, de certa forma, e chego muitas vezes a questionar se vale a pena mesmo eu gostando tanto da execução que meu trabalho proporciona (e eu tenho certeza que 99% dos funcionários de agência ja questionaram a mesma coisa).

Fico chocada também com a montanha de novos talentos que a industria da publicidade tem perdido para outras áreas da comunicação, pelo simples fato de que as pessoas têm priorizado a qualidade de vida ao glamour e prêmios que a propaganda proporciona. E eu acho que elas têm a sua razão.

Como diz um amigo meu, em agência, só dá pra contar com o plano "astral" de carreira, e assim, talvez, a publicidade no Brasil perca um monte de estrelas que poderiam brilhar.

Ou será muita estrela para pouca constelação? Hã? rs

Anônimo disse...

Concordo em gênero, número e grau!!!

Vim do mercado de empresas e, como você, não me encaixei no perfil "corporativismo pride" pelas mesmas razões.

Porém, tive a oportunidade de conhecer e trabalhar líderes natos, fazer parte de uma equipe coesa e obter créditos, méritos (e alguns deméritos também) a cada feedback recebido. O todo (quase) sempre sobressaía sobre o individual, este que, em hora adequada, também era justamente notado e retribuído. Vivíamos em um celeiro de grandes talentos e sentíamos que estávamos sendo treinados para sermos profissionais completos. E isso incluia o desenvolvimento da capacidade de saber ouvir e dividir opiniões com uma mesa cheia de gente.

O Fábio Barbosa, presidente do Real e uns dos maiores gestores / líderes que já tive o privilégio de conhecer, costumava dizer o seguinte: "se cada um mudar a rua ao lado, mudaremos o mundo." Então, que mudemos as ruas! Vamos pavimentar esse caminho das pedras e, quem sabe um dia, esse tipo de comportamento viral seja parcialmente extinto.

E tenho dito!

Um super beijo,

Júlia Gil

Thiago disse...

BOA Mat.

Du caraleo o post.
O raciocinio está ótimo.
A apresentação muito bem embasada e inquestionavel.

mais verdades assim precisam ser ditas,,

Show !!

Presto disse...

É estranho mas real...as vezes em aula percebo uma procura grande em profissionais visionários da publicidade..com intenções de fazer e acontecer em uma agencia e jobs criativos...
Muitos se perdem pelas dificuldades de estagio e empregos pra adentrar na carreira outros se desmotivam pela falta de credibilidade na propria agencia que trabalha.
Incentivos de tantas partes se aproximam as vezes de pessoas que não tem nada na cabeça ou simplesmente um contato forte no mercado...
independente dos beneficios a curto prazo o importante é o aprimoramento e instimulação de mentes criativas em prol dos benéfices futuros.

Laura Campos disse...

O post ta de parabéns!

Bem verdade que esse nosso mundinho de publicitário não é toda a purpurina que parece, e o fato de não sermos "convencionais" não quer dizer que não nos encaixamos em algumas regras profissionais do tipo salário, buscar promoção ou simplesmente não viver pela empresa 24h + 1 por dia...

To bem em começo de carreira, e tentando mudar de área, inclusive, mas já dá pra sentir na pele um monte de coisa.

Mas acho que da mesma forma que somos criativos pra prestar serviços aos clientes, também somos criativos pra virar as coisas a nosso favor.

Dei um RT no twitter pro teu link porque merece!

Kevin disse...

Cara, gostei de ler o post. Bom, eu recentemente mandei um currículo para ti, mas pelo jeito não fui selecionado... paciência né? rs

Mas é duro mesmo, assim como você as vezes me sinto incapaz de me encaixar nesse ramo de empresas. Mas está difícil achar uma proposta digna vinda de agências de publicidade. Aí complica você ter que pensar em abandonar sua empresa, estável, com um salário legal para uma proposta que parece muitas vezes vazia.

Não valorizar a prata da casa é burrice e acredito que cruel com o funcionário.

Mi Vargas disse...

Eu não faço parte desse mundo, mas entendo PERFEITAMENTE a situação, dado que a acompanho de perto.

Mas meu comentário é só para visar de um erro (defeito de jornalista): "Isso se deve também porque muitas vezes porque as agências passam a valorizar mais a prata de fora do que a prata da casa."

porque muitas vezes porque... tem um mporque sobrando! Fora isso, o texto está, como dria Fê Stellita, extremamente elucidativo!

Marcelo Santos disse...

Matheus,

Concordo com o seu ponto de vista. Eu e você fizemos parte de uma equipe onde os critérios (se é que existem) de valorização profissional são altamente distorcidos.

Abraços!

Filipe Alberto disse...

Oi mestre,
Sinceramente, sempre achei ruim partir do funcionário ter que falar com seu chefe por uma promoção, principalmente se ele tem certeza que faz a diferença na agência.
Se vc é bom, vc sabe, vê a reação das pessoas e melhor, vê os resultados. Gostaria muito que essa conversa fosse up-down, mas parece que estamos longe disso, culturalmente em agências, assim como a informalidade e a falta de horário tb incorporaram essa cultura.
Eu (com menos anos ainda de carreira)procurei minhas promoções, mas só depois de ter absoluta convicção de que as merecia. Acredito nisso: na auto-comparação, na auto-superação(provavelmente proveniente de uma educação rígida militar e católica...rs). Tive reações bizarras porém bem sucedidas e algumas contra propostas tortas na vida.
Lidar com gente é difícil, lidar com gente e dinheiro acredito ser mais difícil.
Não sei concluir esse comentário. Seu post faz o povo pensar e acredito que isso seja o melhor.
Abs,

[adams] disse...

Mateus, seu post pontua bem como as coisas acontecem no mercado.

Eu acredito que muito mais do que o "cara do lado faz o mesmo e ganha mais", o fato preocupante é que muitas agências colocam em posições de liderança profissionais técnicos e não de gestão. É uma miopia grande acreditar que o diretor de criação precisa saber aplicar aquele filtro de Photoshop que o estagiário usou tão bem.

Além disso há em profusão empresas esquisofrênicas, que não sabem bem o que elas são, o fazem, e onde querem chegar e acabam transferindo por osmose essa loucura para suas equipes. Culpa de quem coloca as pessoas no trilho errado, ou que põe cada uma remando para um lado acreditando que assim se chegará a todos os lugares possíveis.

Trenimento, avaliação profissional 360º (não aquele tipo miguxo,em que se maqueia os erros para dar uma força pro amigo) contribuiriam bem para a melhoria do mercado.

Ok. É utópico, mas eu não desisto!

abs. adams

Blunardon disse...

Luz no fim do túnel!

Quase um manifesto para mudança!

Muito bom, a dificuldade e mudar isso no nosso cotidiano. Buscar "entender", interpretar e mudar a rotina ou a cadeia que já está em um ciclo vicioso.

vamos que vamos jovens publicitários,virar esse tabuleiro!

Dida disse...

Infelizmente também não vejo perspectiva de isso mudar no mundo das agências num futuro próximo. Uma pena porque eu acho que isso faria o trabalho da agência evoluir ainda mais.

Com relação ao feedback, que o próprio Filipe Alberto colocou, também acredito que deva ser algo vindo de cima (mas, claro, isso não elimina a proatividade da pessoa que está "abaixo"). Ainda com relação a este ponto, como vc disse, as pessoas tem cargo que pressupõe um gerenciamento de pessoas mas muitas vezes nunca tiveram equipe. Neste sentido, as pessoas acabam dando feedbacks muito superficiais, pois não sabem de fato como analisar mais a fundo o funcionário.

Marcelo disse...

excelente post Matheus

isso realmente precisa mudar nas agência, mas enquanto o publicitário brasileiro ser achar pop star, descolado, não ter horário e ser informal isso não mudará...parece que agência não é empresa...se troca ter um ps3 na agência por ter um plano de saúde bacana...e por aí vai...

mto boa sua colocação

abs
Marcelo

Unknown disse...

Texto muito bom. Nada a acrescentar a não ser o fato de que assim como você, muita gente gosta de feedbacks (positivos ou negativos) ainda mais quando estão em processo de seleção para uma vaga.

Aguardo seu feedback, ok? :-)