
Desde o meu começo de carreira, sabia que nunca teria o perfil para trabalhar em empresas. Sou abusado demais, radical demais, informal demais.
Sempre gostei da idéia de trabalhar com calça jeans, camiseta e tênis. Poder chegar tarde. Participar dos eventos mais bacanas, concorrer a prêmios, enfim... Todo esse mundo da publicidade sempre me pareceu muito atrativo.
Alguns (ainda poucos) anos depois continuo gostando muito disso. De algumas coisas mais e outras menos. Mas confesso que sempre fiquei com um pouco de inveja com algumas coisas que se tem nas empresas. Remuneração é uma delas, mas não vou falar disso nesse post. É polêmico, longo e de difícil digestão.
Hoje, caí no blog da Julia Gil que fazia um desabafo e me identifiquei muito. Como não conseguiria falar pouco em um comentário e queria abrir essa discussão com os leitores do Promo Planners, resolvi fazer esse post.
Gestão de pessoas: uma coisa que parece simples como uma linha a mais no CV de quem quer impressionar um entrevistador, na verdade é mais importante e mais complicado do que se parece.
Isso porque no nosso mercado, a informalidade das agências ultrapassa o vestuário, a forma de conversar com seus colegas e acaba entrando em pontos onde a formalidade deve ser uma obrigação.
Começa mesmo no processo de seleção. Muitas vezes por pressa, falta de tempo, saco, experiência ou qualquer outra desculpa que usam, as pessoas optam por não conhecer todos os candidatos e resolvem fazer um processo seletivo informal. Avisam meia dúzia de gato pingado na agência que estão buscando um profissional assim e assado, essas pessoas passam a informação a seus contatos, reúnem 10 CVs, escolhem 3 para conversar e em uma semana o escolhido já está trabalhando na agência. Algumas vezes dão sorte e encontram verdadeiros talentos dessa forma, mas nem sempre é assim e aí para fazer o ajuste fica mais caro (tempo e dinheiro) do que se o processo seletivo fosse feito de maneira correta.
Outra coisa é o tratamento ao funcionário. Agências são empresas prestadoras de serviço onde a matéria prima mais importante é o recurso humano. Somos criadores, planejadores e produtores. Cada um em sua especialidade faz a diferença no processo. Uma pessoa insatisfeita, insegura ou com qualquer problema não produz como poderia o que e, assim, perde-se a qualidade da entrega. Costumamos ser tratados como meros operadores que muitas vezes não temos horário para entrar, mas também não temos para sair. E isso tem que ser entendido como natural. Abrir mão da sua vida pessoal para se dedicar única e exclusivamente para a agência. Devemos acreditar junto com a equipe, fazer sacrifícios em "fases" ou "momentos de dificuldades", mas muitas agências não fazem isso quando precisam realizar cortes de funcionários.
O turn over em agência é alto porque o processo de evolução na carreira é muito subjetivo. Nunca sabemos ao certo quais são os atributos necessários para ser promovido, ganhar mais responsabilidade e por conseqüência mais dinheiro. As grandes empresas têm avaliações completíssimas do desempenho de um funcionário que passa a ser avaliado pelos seus pares, seu superior e seus subordinados em diversos atributos que depois de tabulados são devolvidos a cada um com dicas e orientações para destacar pontos fortes e corrigir pontos fracos de um funcionário. Sabe-se que para ser promovido é preciso tempo de casa + boas notas em determinados atributos que são fundamentais para ocupar o próximo cargo.
Há uma certa horizontalização nos departamentos de agências que deixam pessoas confusas. "Se eu faço a mesma coisa que fulano, por que ele ganha o dobro do que eu?". Somos muitas vezes gestores em cargos, mas sem nenhum funcionário abaixo. Aí quando assumimos um departamento, não temos nenhuma experiência com o gerenciamento de pessoas que é, a meu ver, o maior desafio de um profissional. Saber inspirar os outros e fazer com que eles desenvolvam trabalhos tão bacanas ou até mesmo melhores do que você sozinho faria.
Essas e outras dúvidas que não são esclarecidas ficam como uma pulga atrás da orelha de um funcionário. E já que não temos perspectivas de crescimento, a mudança de agência é a única solução como promoção e evolução na carreira. Isso se deve também porque muitas vezes as agências passam a valorizar mais a prata de fora do que a prata da casa.
E dessa maneira uma agência perde ou não conhece grandes talentos.
Sim, porque são essas as pessoas que criam ações como Skol Beats, Ipod no Palito e muitos outros projetos que ganham prêmios estão aí. Se perguntando entre um job e outro como crescer nesse mercado, como entrar em uma agência grande ou até mesmo como ganhar mais dinheiro para viver melhor.
No final são pessoas que transformam agências em agências do ano, que ajudam a conquistar mais clientes e encantar outros talentos que passam a admirar o trabalho desenvolvido e, por conseqüência, passam a desejar ainda mais trabalhar nessa agência.
Quem trabalha no mercado sabe que esse é um comportamento generalizado do mercado. E para quem está começando saiba que eu não vejo isso mudando em pouco tempo. Que vocês vão trabalhar em agências assim, mas que devem lutar para ter essas coisas que parecem besteiras, mas são super importantes, principalmente para quem está em começo de carreira.
Algumas vezes, por sorte, você pode cruzar com alguém bacana no mercado que sinta essa necessidade e faça isso porque considera importante, assim como eu. Já trabalhei e trabalho com algumas pessoas que pensam assim. Graças a eles pude perceber o quanto isso ajudou a me transformar em um profissional melhor.
Então peça por uma avaliação do seu trabalho, pergunte o que te falta para ter uma promoção e dê feedback para o seu chefe também. Isso é importante para ele saber se está inspirando a equipe ou perdendo cada um pouco a pouco.
Gostou do post? Concorda com o que escrevi? Não? Mande seu feedback. Isso é muito importante para mim. E tenho dito!