quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Anuário, quae sera tamem


“Idéias sofrem. São maltratadas. Mutiladas. E raramente sobrevivem. Desde o momento em que é gerada, uma idéia passa por vários atentados contra sua vida, oficialmente conhecidos como processos de aprovação.

O massacre começa na sala do diretor de criação. Neste momento a idéia já corre sério risco de ser enterrada no cesto do lixo mais próximo. Afinal, o sujeito que está julgando a idéia tem o poder de condená-la usando o mais banal dos argumentos. Um simples “acho que já vi isso antes” é o suficiente para aniquilar a coitada. Muito cruel? Isto é só o começo da carnificina.



Uma idéia ainda pode sucumbir no fundo da pasta do atendimento, que achou por bem esquecer de apresentá-la. Pode ser cortada pelo cliente, que preferiu optar por uma ideazinha mais comportada. Pode ser esquartejada numa
sala de pesquisa, entre comentários brilhantes feitos por consumidores se empanturrando de refrigerante morno e pão de queijo frio.

O fato é que poucas idéias escapam ilesas. E as que conseguem este feito ainda se submetem ao mais sanguinário de todos os seus algozes: um júri de propaganda.


As idéias que estão reunidas neste anuário são muito mais do que grandes peças publicitárias. São sobreviventes. Parabéns a elas. E um minuto de silêncio em homenagem às milhões de vitimas que ficaram pelo caminho”.


Com essas palavras, Bruno Prosperi apresenta o tema do 32º anuário do Clube de Criação de São Paulo que tardou muito (o 33º sai em novembro!) mas não falhou.


Como toda seleção feita por um corpo de jurado, não haverá unanimidade, mas terá representatividade. O júri, ao contrário daquele que provocou a ira de Caetano Veloso num festival da canção, é simpático e competente.


Nem todos os sobreviventes de massacres são necessariamente os melhores, mas, até por serem os que ficaram para contar a história, merecem nossa atenção.

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