sexta-feira, 19 de setembro de 2008
O Brazil não conhece o Brasil
O produto era colchão e o briefing, fazer uma campanha que incentivasse os vendedores do varejo a privilegiar a marca promotora em suas abordagens ao consumidor. Nada de novo no front, portanto.
Entusiasmado com os recursos da internet, o planejamento já iniciou o trabalho ansioso por operacionalizar a ação na web. Logo surgiram os argumentos de que o público-alvo não estava familiarizado com essa mídia, que o acesso a computadores na loja para entrar em sites era muito restrito e outros empecilhos justificáveis.
A cada obstáculo, contrapôs-se uma solução sempre no intuito louvável de tornar a web uma ferramenta desse projeto. A coisa foi num crescendo até que o programa de incentivo ficou mais ou menos assim: a cada colchão da marca promotora comercializado, o vendedor deveria se conectar à internet, entrar no site da promoção, acessar seu cadastro (feito no início da campanha por meio de visita ao PDV pelos distribuidores) através de user name e senha, fazer o registro da venda (número da nota fiscal) e, para assimilar bem as características do colchão que bancava a ação, participar de um quiz game com três perguntas valendo pontos para a premiação.
Fechado o plano, viu-se que parte significativa da mecânica era para obrigar o vendedor a usar a internet. Como não houve consenso entre as partes envolvidas no job, tomou-se uma decisão salomônica: manteve-se a internet, mas também foi oferecida a opção de fazer o procedimento por telefone (call center), que funcionou assim: o vendedor ligava para o call center e a atendente acessava o site por ele. Dessa forma, o tal de quiz game virou uma velha e sambada chamada oral.
Como o call center era um quebra-galho no projeto, foi subdimensionado quanto a seus recursos, o que provocou um enorme congestionamento no atendimento, obrigando a aumentar o número de PAs. Não é preciso dizer que isso não estava na verba e o cliente se recusou a bancar esse custo extra.
Soube de outra ação, também de incentivo, montada para ser operacionalizada on-line que, para funcionar, exigiu que se montasse lanmobiles para percorrer a rede varejista.
O número de computadores em casa e de acesso à internet tem aumentado exponencialmente, isso é fato. O estranhamento à utilização de novas tecnologias como o celular para função além de voz, por seu lado, tem diminuído. Mas o mesmo não podemos dizer de ambientes de trabalho nos quais a conexão dos computadores é primordialmente em redes internas, mesmo que baseadas na internet. É o caso das lojas de varejo em geral, redes de concessionárias, redes de postos de combustíveis e outras atividades nas quais a informática entra apenas como suporte administrativo.
Com todas as informações a que temos acesso, com tantos estudos de perfis socioeconômicos, ainda nos deixamos iludir pelo meio social e profissional no qual vivemos. Ainda nos enganamos provincianamente achando que São Paulo é uma Nova York dos trópicos.
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Um comentário:
"Com crise de identidade
Escrava da sorte
Tipo São Paulo
Quando quer ser Nova York
Êh! Êh!"
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