terça-feira, 13 de maio de 2008

De Job em Job

Vejo muitas - MUITAS mesmo - pessoas que espalham aos quatro ventos que querem sair de onde estão e/ou estão procurando emprego e, na hora em que algum amigo ou conhecido vem com o já famoso "ligue pro Fulano HOJE!", começa com o festival internacional da falta de noção: "ah, sabe o que é? meu portfólio não está atualizado". Então por que falou que estava procurando? Quem procura emprego sem atualizar o portfólio? "Putz, mas será que pagam mais que aqui? Putz, ouvi dizer que esse Diretor de Criação é meio tosco. Putz, mas será que lá é legal? Putz...". Pelo amor dos deuses astronautas! Se você não tem certeza de que quer mudar de emprego (seja porque mudanças estão/estarão acontecendo, seja porque você está com medo de mudar), NÃO peça indicações. Não se queime por insegurança.

É por isso que estou postando essa série De Job em Job na ordem dos passos que se deve dar:

1 - Ter certeza de que trocar de emprego é o que você quer neste momento

2 - Fazer / atualizar seu portfólio, de modo a que ele fique vendedor

3 - Selecionar as agências que podem ser interessantes pra você

4 - entrar em contato com quem decide, para conseguir uma entrevista

5 - fazer uma entrevista show!

6 - aproveitar o melhor do emprego que você conseguiu.

Então vamos lá: a entrevista.

Em primeiro lugar: nosso mercado, como o futebol e o Ronaldo, é uma caixinha de surpresas. Por isso, quando marcar a entrevista, é de bom tom perguntar se a pessoa quer que você ligue confirmando um pouco antes. Assim, caso caia uma bomba na mesa do cara, você não corre o risco de ir até lá à toa ou - pior - ser atendido às pressas por uma pessoa desfocada e/ou de 4 níveis hierárquicos abaixo do que você merece. Se a pessoa disser que não precisa confirmar, vai fundo. Se achar uma boa idéia, ligue umas horinhas antes e, em 5 segundos depois do "alô", confirme e tchau. Não aproveite para dizer que você esqueceu que você tem um blog e o endereço é... Você está indo lá daqui a pouco!

Em segundo lugar: não chegue atrasado. Não. Chegue. Atrasado. Não chegue atrasado sob nenhuma hipótese. Sim, São Paulo, por exemplo, é uma desgraça, o trânsito, a chuva, a marginal, mas não chegue atrasado. Saia MUITO cedo se for o caso. Outro dia fui fazer uma entevista com o Fabiano Coura, nosso Promo Planner colaborador. O horário era às 19h. A NeoGama é na Marginal, ali perto do Ceasa. Obviamente caiu uma chuva monstro, que começou às 17h45. Parei tudo e saí às 18h (eu estava no Brooklin). Não tinha trânsito nenhum e eu cheguei lá antes das 18h30. Mas melhor assim. Levei meu job pra ir fazendo enquanto esperava e, na hora que ele me chamou, eu estava com cara de "opa? já? sim, vamos" e não "AH MEU DEUS, você não sabe, amarginalestáhorríveleeunãoaachavavaga..." que já faz você perder 10 pontos no placar geral.

Em compensação, quando fui na Bullet, que é do lado da Bandeirantes, mesmo saindo com mini antecedência neura, uma carreta virou na marginal e eu simplesmente não cheguei. Devia ter saído com super antecedência neura... Leve sempre com você o telefone da agência em que você está indo. Deu merda? Ligue, explique objetivamente (quanto mais detalhe, mais cara de mentira) e veja as opções: pode chegar um pouco atrasado? quer remarcar? quer começar a entrevista pelo telefone? então posso te convidar pra almoçar amanhã e a gente conversa?

Shit happens. Se organize. Trânsito e "o Atendimento me pegou beeeeeem na hora que eu tava saindo" não ajudam em nada. Chegar na hora mostra o tanto de interesse que você tem naquela vaga. E, quanto mais atrasado você estiver, menos tempo vão dispôr pra ouvir você e ver sua pasta. Acredite.

Em terceiro lugar: na nossa área o dressing code é bem mais soltinho. Mas, ainda assim, por favor, nada de calça aparecendo o cofrinho, decote com o peito pulando pra fora, saia que parece cinto de tão curta... e nem taillerzinho, terno, ficou louco?

Em quarto lugar, desligue seu celular ANTES de entrar na sala em que vão te entrevistar. Entendeu isso? DESLIGUE. E se o entrevistador atender ao dele no meio da entrevista, faça cara de paisagem e olhe encantado para o tampo da mesa, o sofá da salinha, olha que coisa mais linda o carpete. Não fique prestando acintosamente atenção na conversa do cara. Isso não vai o pressionar para desligar rápido e você ainda paga uma de fifi!

Em quinto lugar: se você escreveu um e-mail pro cara pedindo a entrevista, imagino que você tenha pesquisado um pouco sobre a agência dele. Mas, se você foi indicado no esquema "liga pra ele AGORA!", não esqueça de dar uma pesquisada básica sobre o lugar. Chegar sem saber nada da agência é péssimo. E dá margem a um nível imenso de foras e gafes em potencial. Imagina que você vai falar sobre aquele trabalho super legal que você fez pra Pepsi. O cara faz uma observação. Você, inflexível, para mostrar sua segurança, se mantém firme na posição de o que ele falou não é bem assim. E o cara atende a Coca. Péeeeeeeeee. Mil pontos a menos. É bom saber onde se está pisando.

Uma vez um redator foi fazer entrevista no Banco de Eventos. Via-se que ele tinha aberto o site porque falava em 360 sem parar e a comunicação institucional do BE era justamente toda em cima do 360. Só que a pasta dele só tinha merchandising. Então fechei a pasta e comecei a perguntar sobre ações promocionais nos mais diversos canais, pra ver o quanto ele dominava. Uma hora ele se irritou. Me disse que a agência dele fazia 360 em todas as ações, mas que ele, por ser da Criação, obviamente não participava de todo o 360, não é mesmo? Oooooi? E então, na explicação, percebi que ele achou que 360 era: produção + logística + planejamento + atendimento + criação... É bom saber onde se está pisando.

Em sexto lugar: da mesma forma que no e-mail de contato, não seja formal demais nem informal demais. Sinta o estilo do cara e vai atrás dele. Até eu, que falo palavrão feito estivador, em uma estrevista seguro a onda. Se o cara solta o verbo, ok. Se não, faça de conta que você está conhecendo os seus futuros sogros.

Em sétimo lugar: 95% de chances do cara deixar você falando livremente sobre sua vida e obra, nem que seja por 5 minutos. Seja objetivo. Não seja arrogante (eu fiz, eu conquistei, eu tive a idéia). Não minta sobre suas qualificações, mentira tem perna curta. Não fale mal do chefe/emprego anterior. É antiético e o entrevistador vai ter uma imagem mental de você fazendo a mesma coisa do seu futuro chefe/emprego, ou seja, ele e a agência dele.

Em oitavo lugar: não seja passivo o tempo todo. Pergunte o que quiser saber da empresa. É claro que não é hora de saber se tem vaga no estacionamento para os funcionários e se as férias são de no mínimo 20 dias consecutivos, mas você pode perguntar sobre os benefícios, se for um cargo maior, sobre a autonomia sobre trabalho e equipe etc. Outra coisa: se você quiser muito o emprego e o cara disser "mas você ganha muito", você pode agradecer e ir embora ou pode fazer uma contra-proposta: ganhar menos agora pra crescer lá dentro. Uma vez fui trabalhar meio-período. Pra mim, na época, era vantagem: eu queria MUITO sair de onde estava, queria trabalhar com o cara que me entrevistou, estava estudando roteiro (e ter metade do dia pra isso era essencial) e a agência só tinha grana pra pagar alguém que ganhasse metade do meu salário. Fiz a proposta meio-período-meio-salário e emplaquei. Também já saí pra ganhar menos: onde eu estava, não iria além. No lugar novo, combinamos que, dali a X meses, eu ganharia o mesmo e crescendo... e assim foi. Também vale combinar que se vai por menos e, depois de 3 meses, por exemplo, se revê o valor; ou que dali a seis meses, se a meta de ganho de concorrência for X, você passa a ter participação, sei lá. Se você tem muito interesse naquilo, tente. TENTEEEEE! O máximo que vai acontecer é nada.

Em nono lugar: se informe sobre salário. Quando o cara pergunta "quanto você quer ganhar" ele quer dizer "quanto você espera que eu te pague" e não "quanto você precisa ganhar para comprar um apartamento, um carro e rodar o mundo".

E, pra fechar, em décimo lugar: o feeling. Às vezes vamos em uma agência dos sonhos e, ao conversar com o entrevistador... hmmm, não sei, dá uma impressão de que você não vai gostar tanto assim. Ou você vai em uma agência meio desconhecida, mas sai de lá cheio de energia e motivação. Siga o coração. Se a gente for dar ouvidos a todo mundo que tem algo a dizer, ficamos loucos e desempregados. Sim, isso vale não dar ouvidos a mim, se você achar que não é nada disso.
;)

Dúvidas? Disk-Robi

Só pra você se divertir: quem ainda não leu, veja esse post do Neto no Updaters. Ele fala sobre alguns momentos bizarros de entrevistas, colaborei com mais uns 3 ou 4, nos comments, e tem mais gente contando coisas esdrúxulas.

2 comentários:

Marinho disse...

Robi, esse post é para ser guardado. E muito a propósito vem logo após o "Economia de Atenção" do Bruno.Talvez seja o momento mais crítico da carreira no quesito disputar a atenção.

Anônimo disse...

E você notou que, no tal do post do Updaters que linkei aqui, tem um episódio protagonizado por você, Seu Marinhos?
:)