Mostrando postagens com marcador comportamento. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador comportamento. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Em busca do ponto B


Há um fenômeno de comportamento das células no qual elas agem como “maria-vai-com-as-outras”. Trata-se de algo semelhante à dinâmica de peixes em cardumes, como num balé perfeitamente sincronizado, mas no qual não há um regente. Esse fenômeno de movimentos coletivos auto-orquestrados é conhecido como boid.

Cada boid se movimenta copiando exatamente o movimento do boid ao lado, sem que nenhum deles lidere o grupo.

Caberia aqui a observação de que, para que haja a reação, um dos boids deve tomar a iniciativa e, portanto, mesmo sem usar de autoridade, comandar o grupo. Mas não, não há iniciativa individual, a ação se dá como se todos atendessem a um chamado intrínseco ou extrínseco.

Penso que, pelo menos no plano teórico, poderíamos aplicar esse modelo no planejamento de ações promocionais. Sei que não devemos copiar ipsis litteris as arquiteturas biológicas no campo da psicologia, mas estudos, como os relativos à “emergência da complexidade”, do qual já tratei em outro post, sinalizam que essa é uma possibilidade válida.

Os indivíduos, quando reunidos em grupos, tendem a se comportar como os boids. É assim com as torcidas, com as platéias em megashows de música e, por que não, no comportamento social, no qual a idéia de grupo se dá num nível mais amplo, principalmente agora em que há uma proximidade virtual.

Mesmo quando se trata dos movimentos de massa em torno de pregações políticas, por exemplo, embora haja aí um líder, sua influência direta é menor que a tendência do eleitorado em seguir o comportamento geral.

No plano promocional, o segredo estará em fazer com que a ação seja o “agente extrínseco” que aciona o padrão boid do target.

Não se trata aqui de apenas utilizarmos os tradicionais trendsetters através do ferramental de eventos e ações já conhecido. Precisamos, sim, identificar na sociedade o ponto de acionamento do efeito maria-vai-com-as-outras.

Como excitar o impulso mimético do público-alvo é algo que não sei responder, mas que deveremos procurar, na busca do ponto B, de boid.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

código da vinci

(*) Post originalmente escrito para o meu blog pessoal, Caldinas. Resolvi também publicá-lo aqui porque a análise de qualquer sucesso comercial / cultural sempre é assunto de interesse para planejadores.

Update: Antes de receber críticas, me explico. Em 2 ou 3 parágrafos abaixo digo que as teses que o livro propõe são razoavelmente críveis. Talvez tenha me expressado mal, mas quis dizer que, do ponto de vista de alguém leigo no assunto, a história como é contada até parece verdade. É claro que pesquisando sobre isso na internet dá para achar milhares de artigos defendendo e criticando a tese. Não me arrisco a dizer quem está certo e quem está errado.

=====

"Nossa Bruno, tudo bem que você passou quase uma semana sem escrever aqui, mas esse assunto já não está muito ultrapassado?".

Sim e não, respondo fazendo ar de guru. É claro que depois de ter ficado trocentas semanas nas listas de best sellers (se é que ainda não está lá) e de ninguém menos do que Tom Hanks ter estrelado o filme baseado na obra, a trama de O Código Da Vinci já deu tudo o que tinha que dar.

A trama sim, mas as razões de seu sucesso não. Não li e dificilmente lerei o livro, mas ontem resolvi alugar o filme. Gastar pouco mais de 2 horas da minha vida para saber do que se tratava, sendo que parte do meu trabalho é entender o que está acontecendo no mundo, me pareceu uma troca bastante justa.

Já adianto que o filme não é ruim e a trama tem lá seu mérito. Aliás, o curioso é que o desenrolar conceitual em torno da tese de Maria Madalena ter sido a esposa de Jesus, e esse ter deixado herdeiros para o mundo, muitas vezes é mais crível que o desenrolar da ação envolvendo os personagens. Em muitos pontos o filme adquire uma tonalidade policial que eu não esperava encontrar.

Mas a pergunta que não quer calar é: porque fez tanto sucesso?

O que o filme faz é basicamente colocar um monte de perguntas relativamente críveis sem dar nenhum tipo de resposta mais contundente. Jesus foi casado? Mortal ou imortal? Maria Madalena era uma esposa ou uma puta? Teria sido ela a escolhida para continuar o reinado de Jesus na Terra? O vaticano é do bem ou do mal? Coloque aí mais meia dúzia de perguntas e pronto, o sucesso na parte cristã do mundo está garantido. Mas não é só isso.

Em tempos de progresso nos costumes sociais a história criada por Dan Brown ao invés de abalar a fé vai exatamente na direção inversa, uma vez que, se seus questionamentos são potenciais destruidores de dogmas, também funcionam como oxigênio para uma igreja que parou no tempo.

Só para dar dois exemplos, O Código Da Vinci faz as pessoas, no mínimo, pensarem na hipótese de Jesus ter sido mais humano do que a figura relatada, e de uma mulher ter desenrolado um papel muito importante na "maior história de todos os tempos". Oras, e o mundo ultimamente não vem ficando mais humano e feminino?

Mais humano no sentido de menos radical e politicamente correto. Há uma tendência no ar de aceitar melhor os defeitos de cada um de nós e tocar a vida pra frente mesmo assim, com toda a dignidade possível, ou pelo menos a que resta. É isso que a Nike nos diz ao criar para sua maratona anual (Nike 10k) um grupo de corredores composto por gente que está muito longe de levantar a bandeira da geração saúde, ou seja, gente como a gente, que fuma, bebe e passa a maior parte do tempo em frente ao computador.

E sobre a outra tendência eu não preciso dizer muito. As mulheres no poder e os metrossexuais estão aí para dar a resposta.

Assim, através de uma trama bem elaborada com alguma possibilidade de encontrar eco na realidade, Dan Brown não vende apenas um livro, um filme ou uma história bem contada, mas também um olhar mais moderno sobre a igreja, a história de Jesus e a fé. Quase uma proposta de releitura envelopada em um produto comercial. Um best seller para combater outro best seller, a boa e velha Bíblia.