segunda-feira, 6 de julho de 2009

Nós que andávamos nas sombras


Ali pelo fim da década de 1960, início da de 1970, em plena ditadura militar portanto, os órgãos de segurança do governo realizaram uma exposição para mostrar ao público as provas incriminadoras recolhidas nos estouros de “aparelhos”, nome que se dava aos locais onde organizações ou pessoas contrárias ao regime se reuniam ou mesmo viviam sua clandestinidade. Entre os materiais tidos como subversivos constavam desde livros como o Capital, até inocentes exemplares da revista Veja, Realidade (reportagens ensaísticas) e Senhor (uma espécie de avó da publicação Piauí). Nem mesmo um livro pra lá de inofensivo como História da Riqueza do Homem, de Leo Huberman, escapou de ser prova de conspiração contra o regime.

Eram tempos de terror. Qualquer coisa, a mais absurda, poderia incriminar uma pessoa. Por isso, até os que eram contrários ao regime, mas não tinham nenhuma militância, e mesmo os que nem opinião tinham se precaviam, procuravam se expor o menos possível para não acabar sendo involuntariamente envolvidos pela paranoia do sistema.

Muita gente sem vínculo nenhum com os movimentos de resistência viveu o inferno e até mesmo “desapareceu” apenas porque seu nome estava na agenda de alguém que “caiu”, nome que se dava à prisão ou assassinato de um militante.

Num ambiente assim, quanto menor fosse seu “network”, melhor. Ser muito conhecido poderia acarretar mais problemas do que afago ao ego. Andava-se pelas sombras e, com isso, formou-se uma cultura de discrição que se choca, agora, exatamente com seu contrário: a era da exposição.

Redes sociais, blogs, twitter são coisas para as gerações que se formaram sem medo de caminhar ao sol.

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