terça-feira, 29 de julho de 2008

Trocando 360 por 180º


Conheci um diretor de arte, o Chico Martinazzo, que tinha por hábito exercitar sua mente mudando radical e fisicamente seu ponto de vista. Costumava pegar as imagens que buscava por referência e olhá-las de ponta cabeça, semicerrando os olhos e de outras maneiras que não a convencional, com o objetivo de “enganar” os filtros que vamos adquirindo ao longo da profissão e da vida.

Isso não era nenhuma técnica de invocação de insights, mas uma forma particular de desconstruir o olhar para poder ter uma nova visão de algo comum. Afinal, às vezes, criar o novo nada mais é do que desordenar o ordinário. Parece simples, mas é no prosaico que reside a complicação da nossa natural resistência em ver de outra maneira tudo que está em nossa paisagem mental.


Embora combatamos os dogmas, eles estão muito mais presentes em nossa estrutura de raciocínio do que imaginamos. Digo isso a propósito da usual abordagem que fazemos dos briefings, quando navegamos a partir de todos os pontos de referência já devidamente cartografados. Nesse momento, buscamos encaixar o problema no mandril das ferramentas conhecidas, explorando todas as possibilidades no já famoso planejamento de 360º. Poucas vezes, entretanto, buscamos analisar o problema sob uma ótica diferente da já implícita em sua proposição pelo cliente e mesmo pela nossa maneira estandardizada de diagnóstico.


Muito provavelmente enxergar o problema por outros ângulos já será meio caminho para uma solução mais precisa.


Na parábola do bom vendedor que se notabilizou por vender refrigeradores para esquimós, demonstrando que a temperatura interna da geladeira ligada era muito mais elevada que a temperatura ambiente, o mérito não está em sua possível lábia ou modo criativo de vender, mas em sua maneira 180º de analisar o problema.

2 comentários:

Gustavo Gontijo disse...

Isso é verdade.
Mas também é verdadeira a dificuldade de aplicar esse olhar 180º sobre as coisas...
Muitas vezes nos empenhamos em fazer isso e acabamos voltando à nossa maneira estandardizada de diagnóstico. O importante é ter consciência disso e continuar tentando.

Marinho disse...

De fato, Gontijo. Essas proposições não devem, penso, ser vistas como procedimentos de um "manual". São sinais que colocamos em nosso caminho para lembramos de acordar.
Um livro de Paul Arden (Tudo o que você pensa, pense ao contrário) cabe bem esse comentário.