sexta-feira, 13 de junho de 2008

A novilíngua não é uma nova língua (ainda)

Animado pelos comentários dos Brunos (Panhoca e Scartozzoni) ao post “Novilíngua”, volto ao assunto para tratar do meu próprio quintal, a Redação.

Enquanto a direção de arte, por sua expressão predominantemente imagética, acompanhou as transformações da mcluhaniana Galáxia de Gutemberg para aquilo que podemos chamar de iconesfera (ou videoesfera, como querem alguns), o mesmo não ocorreu no mundo das palavras.

Quem consultar os anuários de propaganda dos anos de 1970 verá como é significativa a participação de anúncios all type e outros quase isso, nos quais a imagem era um mero apêndice no approach. Ainda se estava sob o domínio da oralidade, na qual a criatividade estava na formulação de chamadas que não fossem meros “anúncios”, mas engenhosas, transversas e instigantes maneiras de dizer que o suco agora tinha uma versão com sabor de limão.

Esse tempo correu alguns séculos nos últimos 30 anos. E-mail x carta; processador de texto x máquina de escrever; celular x telefone fixo. Significativamente quando a comunicação pela palavra ficou mais fácil e rápida, aí é que a linguagem sofreu sua maior transformação. Mas essa transformação, embora percebida, ainda não chegou aos ambientes que elaboram a comunicação pela palavra.

Não estou insinuando que deveríamos começar a redigir com vc, eh, bjs e :-). Um texto que tenha a missão de explicar, e não apenas de motivar, por certo ainda terá que ser escrito à moda antiga. Mas cada vez mais vejo sinais de que a maneira como lemos (em blocos, não letra a letra ou palavra por palavra) de certa forma precisa ser, será ou já está sendo incorporada à escrita.

Por enquanto, a supremacia da imagem dá conta da comunicação sozinha, como posso ver nos trabalhos fantasmas que os candidatos a direção de arte e mesmo a redação colocam em suas pastas: uma bela imagem em página dupla com um título em corpo 8 junto ao packshot. E fica muito bom!

No caso do hipotético anúncio do suco que citei acima, hoje, no lugar do título “sacado”, teríamos uma imagem que conotasse refrescância, toda matizada com tons de um verde cítrico, com uma pequena assinatura ao lado do packshot do produto: “Agora com sabor limão”. E acho mesmo que ficaria muito bom.

Sei que a função de um redator numa dupla de criação não é apenas a de redigir, bem como a do diretor de arte não é somente a de leiautar. O produto de ambos, como de resto da profissão, é gerar idéias que serão comunicadas com mais ou menos palavras ou imagens. Com esse post apenas quero, pretensiosamente, provocar uma reflexão sobre o ato de escrever hoje, contemporaneamente. Há como, até para ser eficaz, diminuir o delay entre a linguagem viva da rua e da web e a formal com a qual nos comunicamos oficialmente? Fica o repto. Por enquanto, vale o comentário do epigrama:

No tropeço de vírgulas,
a vida caminha,
torta por linhas certas,
abrindo parágrafos,
períodos,
breves alguns,
prolixos outros,
em busca do mesmo ponto,
o final
.

Nenhum comentário: