quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

360º ou como estar redondamente enganado

Tenho por princípio desconfiar sempre dos conceitos rotuladores que medram em nosso meio. Houve tantos e vários que nem me atrevo a sequer exemplificá-los aqui. Eles lembram aqueles pássaros soturnos do filme homônimo do Hitchcock. Sem que a gente perceba, eles vão chegando, chegando e, quando menos se espera, já tomaram conta de tudo. Despercebidamente como vieram, se vão, dando lugar a outras aves que ditarão a voga da outra temporada.

O tordo da vez é a estratégia 360º. Nada contra. Acho mesmo fundamental que pensemos as soluções da maneira a mais ampla possível ou mesmo de forma total como se depreende de uma varredura que se pretende abranger todo o arco de possibilidades para ações de marketing.

Mas em que nível de profundidade está se planejando realmente em 360º? O que significa de fato essa postura diante de um job? 360º graus é um mergulho e não a visão perimetral a partir de um giro sobre o calcanhar.

O que tenho visto é a aplicação desse princípio de forma superficial, na maioria da vezes meramente a replicação de uma proposta de comunicação pela web e por todas as possibilidades de no-media disponíveis. Um exemplo: digamos que a campanha de propaganda tenha por gimmick o surgimento de um arco-íris sempre que os protagonistas do comercial usam a solução da marca anunciante. Na visão estreita dos 360º, isso vai significar colocar o tal do arco-íris na Internet, no YouTube, no ponto-de-venda, no céu da cidade, na empena de prédios longe da jurisdição do Kassab, no evento musical ao ar livre, na sala de cinema, na mensagem MMS em ações mobile e, se alguém encontrar um jeito, na chamada do telemarketing também.

Aí, 360º vira sinônimo de redundância, mais do mesmo, e não de sinergia. Tenho visto propostas de 360º que se resolveriam bem e com mais profundidade agindo num arco bem mais estreito.

Isso não seria de todo ruim, podendo até valer como exercício de criatividade para o planejamento se, devido ao tempo exíguo que temos para cada job, essa imposição não implicasse menor aprofundamento da análise das soluções propostas.

A vitória do pensamento 360º sobre a visão fechada que se impunha ao planejamento é algo que comparo à conquista da liberdade em regimes fechados. Inebria e entusiasma, mas cobra o alto preço da responsabilidade.

2 comentários:

andrea mello disse...

depois de muito filosofar também a respeito da promissora filosofia 360, começo a desconfiar que ela precisa ser construída não por um profissional que conhece e sabe de tudo, mas por vários especialistas integrados por um profissional (ou uma equipe), com visão global. na prática eu diria que mais vale ser a Loducca no grupo do Nizan (trabalhando de forma integrada com as outras empresas especialistas em below the line, on-line, etc.) do que sozinho querer fazer com expertise tudo o que a Loducca e todas as outras empresas do grupo fazem ao mesmo tempo.

Anônimo disse...

Até porque quem faz tudo não faz nada direito... É isso aí, Dea ;)