Pois, para preparar terreno para a estréia do filme Podecrer, que mostra uma história passada em 1981, a Conspiração, que produziu a fita, pediu para a Espalhe criar uma ação de ativação.
Agora corta pra euzinha, assistindo O Passado no cinema ontem. Saí do filme com um ódio tão intenso (ô filme ruim, gente!) que achei que eu merecia ver o segundo filme na minha tarde de ócio, pra compensar. O que ver? O que ver? Pensa, pensa, vê cartaz, estuda horário... Caí no viral da Espalhe: fui ver Podecrer, em momento recordar é viver.
Como foi o viral da Espalhe? A primeira coisa que a agência fez, lá por agosto passado, foi começar a postar vídeos no Youtube, FizTV e Videolog.com, mostrando 3 amigos supostamente em vídeos captados na década de 80, e convertidos para sei lá que tecnologia, para poderem ser postados no Youtube e afins. A coisa deu tão certo que terminou rendendo uma matéria no caderno Link, do Estadão.
Tudo dentro de uma página/nick "Babilônia 81", muito mencionada no filme... mas péra, que diabos é Babilônia, pergunta-se você, pessoa com idade começada com 2. Babilônia é tipo assim cara sei lá, segundo a religião Rastafari*, o sistema que impera, o sistema em que vivemos e onde cada um tem que fazer sua parte para mudar, acreditando nas suas verdades, respeitando a opinião dos outros e lutando contra o que oprime, contra o que é... como direi? Anti-humano. Capitalismo, preconceito, a polícia etc. Nos anos 80, era esse o papo até o ouvido estourar. Pelo menos em colégios mais alternativos, como o que estudei no colegial, entre 85 e 87 (estudei no Logos - não era exatamente alternativo mas, para a época, era super liberal, arrojado, o máximo).
Pois os vídeos começaram a bombar e aí entraram em cena... as latas. Latas espalhadas pelas praias do Rio, boiando no mar, espalhadas nas areias, empilhadas nos cestos de lixo. Dentro das latas, fotogramas do filme, os mesmos que você vê no site do Podecrer.
Ai, Deus... você também não sabe o que foi o Verão da Lata? Em 88, um navio que carregava 2 toneladas de maconha estava passando pelo litoral do Brasil, mais especificamente pertinho do Rio, quando a Polícia chegou junto. Para se livrar, os caras jogaram no mar as 25.000 latas contendo a droga prensada. Foi uma festa. Era lata chegando pra todo lado, algumas foram parar no litoral de SP!. A música da Fernanda Abreu vem daí, "da lata" virou sinônimo de coisa boa. Pra você ter uma idéia, só 2.000 latas foram recuperadas pela Polícia.
E a ação não parou aí: vendedores ambulantes percorreram diversos pontos de convergência vendendo a trilha sonora do filme que ainda nem tinha sido lançado... em vinil! Eram vendedores, como você vê na foto aí ao lado, carregando discos enormes, que hoje chamam atenção a metros de distância, fala sério.
Bom, me sentindo cada vez mais velha, continuo aqui, firme e forte, a escrever o post.
O que aconteceu é que o público primário do filme, ficou antenadíssimo e foi atrás de informações sobre esses episódios e... ui, sobre o filme.
E as pessoas que tinham, na década de 80, a idade dos personagens do filme (uns 16 anos, por aí), caíram no revival e, como eu, foram conferir a história de perto (em 81, eu tinha 11, mas, 4 anos depois, tava eu lá, no Logos, ouvindo sobre a Babilônia e andando de patins de 4 rodas ao som de Lança-Perfume).
Não era esse o objetivo? Um job bem resolvido é aquele que você vê a solução e sabe qual foi o briefing (ouvi o Olivetto falar isso em uma palestra, na década de 80, aliás).
Esse viral deu uma alavancada no poder de atração de público de uma história que é bonitinha, mas só isso.
Gostei mais da campanha do que do filme, pra ser sincera. Mas a fita é legalzinha, não tive vontade de ir pedir meu dinheiro na bilheteria, mais minhas 2 horas de vida de volta, depois de ver o filme, como depois de O Passado.
Ponto pra Espalhe e, pra Conspiração, ponto por ter contratado a agência certa.
Quer ver um dos filmes teaser? Que tal esse em que os amigos falam das lendas urbanas da época? Ou você também não sabe quem é a Loira do Banheiro? Essa é famosa...
* É sério, a religião Rasta existe: prega a maconha para uso espiritual, entre outras coisas que não me interessei, e, por seguí-la, Bob Marley se recusou a tratar um câncer de pele que acabou causando sua morte aos 36 anos. Leia sobre isso aqui, ao som de No Woman, No Cry.
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