segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Mea culpa




Não acompanho esportes, não tenho time de futebol de predileção. Somente em momentos nos quais o assunto é dominante, como em Olimpíadas e Copa do Mundo, arrisco um olho.


Assim, vendo apenas fragmentos da transmissão da Olimpíada de Beijim, duas coisas chamaram a minha atenção. A primeira delas foi a copiosidade com que nossos atletas choravam. Fosse porque perdiam, o que é compreensível, fosse porque ganhavam, o que se torna compreensível também quando sabemos da enorme pressão que esses Quixotes sofrem por carregarem o país sozinhos.

A segunda ocorrência foi o drama vivido por nossa seleção feminina de futebol naquela fatídica final contra os Estados Unidos. Com o jogo já na prorrogação, depois de um zero a zero de expor os nervos no tempo regulamentar, e a bola insistindo em não entrar, a atacante Marta se dirigiu aos céus e, em súplica, indagou “o que é que eu fiz de errado?”. Isso me comoveu. No auge de seu desespero, no lugar de um pedido, ela apenas solicitou ser informada do peso do seu pecado para merecer tão cruel castigo.


Os italianos e espanhóis, em situações semelhantes, imprecam contra Deus. O próprio Jesus não pensou duas vezes para denunciar a omissão divina com o célebre “Pai, por que me abandonaste?”. Mas Marta, não. Humilde e portadora de uma culpa sem registro, ela apenas quis saber o que tinha feito de errado. Não questionou a justiça da pena, apenas sentiu-a demasiadamente pesada, mas mesmo assim digna de uma justificativa.


Naquele momento, muito mais do que os poucos atletas vergando a nossa bandeira como um manto, Marta era o próprio Brasil. Diz o axioma que quem não deve não teme, mas nós tememos sem saber o que devemos.

Há um complexo de penitente que nos faz encarar os fracassos como merecimento. A vitória, seja em que campo de atividade for, é um acidente, um feito fortuito. Talvez por isso seja tão comemorada.


Na tomada de tempo para definição do grid de largada do GP de Cingapura de Fórmula 1, o carro do Alonso, favorito para a pole position, quebrou. O piloto saiu do carro, levantou a cabeçorra aos céus estendeu os braços e gesticulou nervosamente. O capacete impediu de se saber o que bramia, mas com certeza não era súplica. Alonso é espanhol das Astúrias.

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