terça-feira, 26 de agosto de 2008

Bienal do Livro. Muito esforço para tão pouco


Estive na Bienal do Livro pela primeira vez e de lá trago impressões as mais contraditórias. A primeira delas é o número impressionante de visitantes, ainda mais considerando que o ingresso era pago (R$ 10,00). Se algum instituto de pesquisa fosse medir o interesse do brasileiro pela leitura a partir dos estacionamentos (todos lotados), a sucuri de ônibus fretados tomando as duas faces do “palácio” de exposições do Anhembi e, óbvio, o counter das catracas, o Brasil seria, de longe, o país em que mais se lê.

A Bienal em si é um mercado persa: uma sucessão sem fim de estandes-livrarias com recursos muito pobres de arquitetura promocional e de comunicação. Na cacofonia visual de milhões de livros que se transformavam em pixels na imensidão do espaço da exposição, push-girls (nada girl, mas muito push) caçavam visitantes nos corredores de forma constrangedora. Fiquei me perguntando: alguém compra um livro pela abordagem insistente de um vendedor?


É verdade que grande parte dos visitantes portava uma sacolinha com ao menos um livro.
Como venda direta, a Bienal do Livro não aparenta ser um grande negócio, porém acho que o business está mais na porção trade faire do evento, que deve ser significativa, mas nada que represente muita novidade para as grandes editoras.

O aspecto feira predomina sobre qualquer pretensão cultural ou educativa e nisso não vai nenhuma crítica, apenas uma observação. Num mercado cuja mercadoria é vista como sagrada, ir à Bienal é como ir a Meca ou a uma romaria ao Vaticano, em que o sagrado e o profano acabam convivendo.

O detalhe interessante a se observar foi a espantosa popularidade de Ziraldo. Havia uma fila para autógrafos com o autor que dava a volta no estande e se estendia pelos corredores formando uma cerca humana que impedia o acesso a outros estandes, o que obrigou funcionários da editora e da administração do evento a atuarem como “marronzinhos”, orientando um rush de gente. O curioso é que Ziraldo fala de uma infância romantizada, a dele quando criança em Cataguases, MG, nos anos 50, quando havia “galos, noites e quintais”. Ou seja, nada com o que se identifique uma criança de hoje. E não eram os pais que tietavam Ziraldo, mas a criançada, que não se contentava com o autógrafo e queria fotos também. Isso merece uma reflexão.


De uma forma geral, fiquei com a impressão de que a Bienal do Livro é um grande esforço muito mal aproveitado pelo marketing promocional. O mais difícil eles já fazem, reunir tanta gente em torno de um produto nada popular e ainda por cima pagando por isso. O passo seguinte penso que deveria ser surpreender essas pessoas com uma experiência não com o livro, como nas livrarias, mas com todas as suas possibilidades de informação, fantasia, sonho e viagem virtual sem fronteiras.

Por incrível que pareça, nessas ocasiões, as editoras se comportam como se vendessem o objeto livro: um volume de papel encadernado com algo escrito dentro e uma grife dando aval na capa.
Do jeito que está a bienal é dos livreiros e não dos livros.

Caetano Veloso, ali nos anos de 1960, passou por uma banca de revistas da Praça da República, em São Paulo, e espantou-se com a quantidade de títulos oferecida. Poetou: “O sol na banca de revista me enche de alegria e preguiça. Quem lê tanta notícia?”.

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