Após uma noite no boteco, algumas lembranças esparsas rondam minha mente.
Um formato bacana, com mesas de bar, cerveja, lousa no cavalete, garçom, bolacha e um bate-papo informal entre os planejadores Cyhthia Horowicz, Ulisses Zamboni, David Laloum, Walter Susini e Fernand Alphen. Para fechar a conta, Ken Fujioka como moderador.
Uma conversa que não teve a intenção de concluir, mas sim de gerar reflexão. E não poderia ser diferente. Qualquer tentativa de construir verdades seria mera leviandade. Afinal, o que é verdade para alguns pode não ser verdade para outros. Isso ficou evidente no posicionamento dos planejadores botequeiros, que muito discutiram e por vezes chegaram a se digladiar ("degladiar" não está correto de acordo com a norma culta).
Isso acabou dividindo a platéia. Algumas pessoas gostaram do jeitão de francês atrapalhado do David Laloum e outras da postura "do contra" adotada pelo Fernand Alphen. Tem gente que se simpatizou com a sensatez e o pé-no-chão do Ulisses Zamboni e também tem quem adorou a excentricidade questionadora do Walter Susini. Provavelmente poucos gostaram de todos, e um número ainda menor se empolgou com a participação da Cynthia, que foi bem tímida.
Até mesmo aquele cidadão de paletó cinza e cabelos idem, que conturbou o evento com sua participação pífia, falou mais. Deveria ter ficado quieto. Teria nos poupado de ver ali, escancarado, o retrato da hipocrisia vigente em nosso mercado. Um mercado inundado em uma ego trip sem tamanho, onde a preocupação de muitos é se somos ou não os novos criativos. Foda-se. Minha vontade era de levantar e pedir àquele cidadão que ficasse quieto porque ninguém é obrigado a ouvir tanta besteira. Os planejadores não precisam (e nunca vão conseguir) conhecer o oceano em profundidade, como ele proclamou. Discurso frágil e manjado. A impressão que fica é que estamos planejando o lançamento de produtos no mercado lunar. Seria melhor se todo esse blábláblá fosse dito em algum dialeto marciano. Pouparia nossos ouvidos.
Talvez por viver no mundo da lua ele ache (e alguns planejadores botequeiros concordaram) que não exista diferença entre o planejamento btl e o planejamento atl. Concordo que não deveria existir, mas existe. Pelo menos por aqui, no planeta Terra. Independente de estar acima ou abaixo da linha (não vamos nos ater a nomenclaturas, uso-as apenas para transmitir uma idéia) todo planejador precisa se preocupar com questões referentes ao público-alvo, mercado, concorrência, ferramentas de comunicação, valores de marca e por aí vai. Mas no dia-a-dia nós, promo planners ou como queiram chamar, somos obrigados a lidar com problemas específicos (e a verba reduzida é o menor deles).
Apenas para pontuar alguns deles:
- Falta de colaboração das agências de propaganda, que omitem informações importantes para não entregar seu "ouro".
- Prazos muito apertados (e quando dizemos apertados queremos dizer poucos dias), o que é um verdadeira suicídio em se tratando de planejamento.
- É comum trabalharmos em cima de conceitos já estabelecidos pela propaganda, cabendo a nós definir uma estratégia de como desdobrá-lo em outros pontos de contato com o target.
- Não possuímos as mesmas ferramentas de trabalho do atl, como acesso a pesquisas, grupos de discussão, etc. Quem trabalha na área sabe que muitas vezes contamos apenas com Deus e com o Google (não necessariamente nessa ordem).
- Clientes despreparados e talvez por isso sem coragem de inovar. Apesar de uma parcela maior da verba de marketing dos anunciantes estar sendo alocada em ações btl, ainda é difícil emplacar novos formatos estratégicos. Vemos sempre as mesmas promoções, os mesmos eventos, as mesmas ativações, apenas com máscaras diferentes.
Enfim, na prática a história é outra. E gostei da postura do Ulisses, que foi o único a reconhecer essas diferenças e a alertar sobre a hipocrisia que estava rondando a mesa.
Acabei me prendendo nesse assunto porque é o mais relevante para o blog. Não vou me estender aqui falando sobre modelos de remuneração, novas mídias e formação do planejador, mesmo porque seria mais do mesmo.
O que eu queria era apenas libertar a voz que ficou entalada na garganta naquela quinta-feira à noite. Acredito que na garganta de grande parte dos planejadores que estavam na platéia, sem fazer distinção entre btl ou atl. Porque se há algo em que devemos concordar é que a comunicação brasileira precisa de mais ação e menos discurso. Acima, abaixo e até mesmo sobre a linha.
P.S.: Está rolando uma discussão acalorada no Blog do GP, devido a um post do super hype Fernand Alphen. Afinal, meros hypes são os outros. Ele é o supra-sumo da hypice. Aposto que daqui há alguns dias um bando de planejadores vai seguir a onda...
(Não estou querendo vender ou construir verdades. Esse post representa minha opinião pessoal. Por isso sintam-se livres para contribuir e discordar nos comments.)
segunda-feira, 7 de julho de 2008
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6 comentários:
Gustavo,
ótimo post. Concordo com vc em todos os pontos levantados. Tbm sou um promo planner e sei o que vc sente quando ouve um discurso engessado como o que rolou no PAPO DE BOTECO.
Outra coisa legal de levantar é que a grande maioria dos cursos, como por exemplo, o BOOTCAMP da MIAMI AD, tbm assume o planejamento como sendo uma coisa única.
Como já diria Elvis Presley, "A little less conversation, a little more action"
Parabéns,
Enricco Benetti.
Gostei do seu posto Gustavo. Estava la na palestra com meus amigos promoplanners e todo mundo saiu com a mesma impressão que vc.
Eu acho que o evento deveria ter alguem de promoção. Sei la, algum planner de uma agencia como o Banco de Eventos, Bullet ou B/Ferraz, enfim, as agencias lideres no setor.
Mas valeu a pena, é bom ouvirmos para podermos ter essa critica.
Parabens pelo post.
Um abraço
Gontijo, maravilha de post.
Falta gente com culhões para expor e discordar de opiniões formadas e pré fabricadas por dinossauros do mercado. Tem que ter pulso pra tomar uma atitude, seja ela qual for, e defender sua classe, seus colegas, seus parceiros. Mandou bem.
Abraço.
É o que eu sinto também e mais, os promoplanners estão cada vez mais presentes nos eventos do GP. Aliás está faltando promoplanners (ou planejamentos btl) por lá, digo no conselho... Temos que nos fazer presentes porque se não estivéssemos em peso no auditóri naquele dia o Ken (Fujioka) não teria perguntado antes de NÃO emitir nenhuma opinião sobre o assunto.
Aliás, a interferência do senhor cinzento esfriou a discussão na hora "H". O que aconteceria se ele não tivesse começado aquele discurso paralelo?
a-do-rei o post. o comentário do tal moço de terno cinza tbém ficou atravessado na minha garganta, e entalou de vez quando vi algumas pessoas "esclarecidas" da mesa concordarem com ele.
e como não poderia deixar de ser, fui investigar para saber do tal moço o quão fundamentada era sua colocação (vai que ele era mesmo de outro planeta).
em suma, ele é tão esquerdista quanto o fernand (advertising na veia e fuck everything else), diz trabalhar em uma agência super pequena e com verba apertada, mas não pega nenhuma conta de menos de três milhões e acredita que as únicas agências de propaganda brasileiras que conseguiram planejar um dia são a talent e a fisher (na época em que ele trabalhou lá, of course).
depois desse apanhado de informações, preferi até esquecer o tal nome do moço de terno cinza.
Eu acho engraçado como uma negada de ADV arrepia a espinha quando ouvem as palavras BTL, Promo, Ativação.
O melhor jeito de tratar o "problema" não é escode-lo e sim jogar aberto e esclarecidamente, porque se não a corrente e massa questionadora vai ficando maior, maior e maior...
Ken Fujioka parafraseia a atitude do Ronaldinho e "assume os travestis", coloca sua opiniao e do GP em um evento especial sobre "PLANEJAMENTO BTL, PROMO, ATIVAÇÃO E SEU PAPEL ESTRATEGICO NA COMUNICAÇÃO, NESSA PRATICAMENTE SEGUNDA DECADA DESSE NOVO SECULO".
Generoso da Silva
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