terça-feira, 22 de julho de 2008

A lição de Pessoa


Houve um período em que os profissionais de criação, em grande parte, eram artistas “injustiçados” pela sociedade.

Novos Lichtenstein, sem lugar ao sol da fama, viravam diretores de arte, diversos James Joyce adiavam o sonho de revolucionar a literatura para viver de redigir anúncios de margarina, aspirantes a Goddard e Glauber eram obrigados a dirigir filmes de liquidação do Mappin. Só mais tarde os pendores artísticos dos criadores deixaram de ser uma frustração e, às vezes, até se realizaram paralelamente à profissão.

De qualquer forma, ontem, como hoje, as formas de comunicação se utilizavam dos recursos artísticos para aprimorar seu discurso, mas a arte, nesse caso, é um meio e não um fim.

Uma das diferenças, e talvez a decisiva, entre a comunicação de marketing e a arte é que esta pode se dar ao luxo de ser incompreendida. Agora imagine uma ação promocional com o hermetismo de uma performance de Yoko Ono.

Por outro lado, a necessidade de explicitação da mensagem, de clareza da informação, começa a ser revista graças ao aparente sem compromisso das experiências na internet.

Um case que me chamou a atenção foi o do famoso viral, que depois virou comercial, do gorila dos chocolates Cadbury’s, um exemplo de uma comunicação pela comunicação. Nada nesse trabalho parte ou conduz à conclusão de um conceito ou coisa parecida. Tirando a assinatura, a peça poderia ser um supercurta-metragem. Cadbury’s entra como um patrocinador. E aí, parece-me, há um novo caminho para a comunicação do marketing aplicando a lição de Fernando Pessoa: “O essencial da arte é exprimir; o que se exprime não interessa”.

6 comentários:

Anônimo disse...

Talvez você tenha provado o motivo do sucesso desse comercial do chocolate. Inclusive comentei em um post recente no meu blog que, apesar não fazer e não gostar de comerciais sem sentido, adorei esse do Gorila.
Acho que esse raciocínio que você construiu semi explica o sucesso do danando.

Anônimo disse...

Marinho, muito bom!!
Ainda bem que essa "clareza da informação" está sendo revista; pelo menos em alguns momentos.
Nós precisamos buscar mais esse tipo de reação. O discordar, o gostar, o amar, o odiar...enfim, há momentos em que "só" isso é importante. E o comercial do Gorila provou isso.
Talvez se esse tipo de comunicação fosse feita mais vezes, não teríamos tantas reações contrárias. As pessoas estão tão acostumadas com essa comunicação pasteurizada de hoje, que quando vêem algo que não cumpre a função de um comercial, é "estranho" e gera polêmica.

Abraço

Marinho disse...

E´isso Dida, eu mesmo continuo revendo meus conceitos que, se não tomarmos cuidado, viram dogmas e aí, bay, by.
E como comentou o Nivaldo, mais acima, esse comercial do gorila leva a gente a um novo olhar.

Anônimo disse...

Vocês realmente não vêem uma mensagem clara e evidente? Não sei se sou publicitário demais - o que pode ser muito provável - mas a execução me parece inteira pensada em cima de um único conceito, "Enjoy", que fica brilhantemente amarrado no final. Não vejo nada de "patrocínio" da marca em um semi-curta-metragem. A única coisa é que a execução chegou a um limite, sim. Extrapolou a maneira de vender "enjoyment" (sic), ao invés de mostrar crianças felizes ou mulheres com prazer. Enfim, case brilhante, sim. Mas longe de ser arte.

Marinho disse...

Mesmo considerando que depois de Duchamp a fronteira entre o que é arte e o que não é tenha ido para o espaço, as observações do "Anônimo", acima, procedem. Muito provavelmente um dos méritos desse trabalho está em fazer um comercial (ou viral, como queiram) que nos impacta como comercial mas assimilamos como semicurta-metragem.

Panhoca; Bruno disse...

Nessa era de informação banalizada, onde tudo está disponível, fácil e ao alcance de todos, um filme que consegue entreter, divertir ou mesmo prender a atenção por um minuto e meio e depois ser lembrado, discutido e comentado já é um grande filme.
As pessoas querem ser surpreendidas. Comparo este filme aos de Sony Bravia. Entretenimento rápido e de qualidade. Um comercial que desperta nas pessoas o desejo de ser visto de novo, merece a nossa admiração.