sexta-feira, 16 de maio de 2008

A maldição dos jacarés

No fabulário da administração há a parábola do executivo que foi enviado ao Everglades, na Flórida, para implantar a infra-estrutura de um parque temático que sua empresa construiria junto ao pântano.

Ao chegar ao local, a área determinada para receber o complexo turístico estava tomada de jacarés. Eram tantos que, na primeira vacilada, nhoc!, um dos répteis crocodilianos mordeu seu pé. O executivo deu-lhe uma bordunada com um taco de beisebol (americano tem sempre um taco de beisebol) e o matou. Nisso, veio outro aligatorídio por trás e zás! em seu calcanhar. Mais uma porretada, menos um jacaré. E assim foi dias e dias, semanas e semanas, com o esforçado executivo sendo molestado pelos jacarés e revidando a tacadas.

Passados seis meses, o pessoal da empresa foi ver como estava indo a empreitada. Lá chegando viram um monte de jacarés mortos e nenhum sinal sequer de início da obra. O executivo foi demitido. Seu sucessor também não apresentou outro resultado além de jacarés abatidos e foi dispensado também, o mesmo acontecendo com a outra dezena de administradores sacrificados por causa dos jacarés.

Moral da história: ao contrário da natureza, na administração, jacarés não podem ser extintos. Ou se convive em harmonia com eles ou eles extinguem você. O incrível é que algo tão óbvio seja permanentemente ignorado nas agências.

Mal a jornada começa e nossa mesa já está entulhada de jacarés ansiosos para a primeira mordida do dia. São jacarés disfarçados de pequenos jobs, daqueles que não se comentam nas reuniões do board e o portflólio sequer registra: ajustes e correções sem fim em trabalhos criados; o broadside de uma lâmina; a enésima mensagem motivacional do programa de incentivo, e por aí vai. ”Nada muito complicado”, como assevera com simpatia o atendimento.
Ao final do dia, a agência está cheia de jacarés abatidos e de grandes obras intocadas, com seus briefings que nem lidos foram.

O que fazer? Tudo, menos ignorar a realidade cheia de dentes que habita nosso cotidiano. Uma solução é ter uma estrutura formada por profissionais altruístas que pastoreiem os aligatores, pois eles estão também na raiz dos problemas que começam a desgastar a relação com o cliente, depois de tão bem construída naquele show de apresentação quando a conta (ou o job) foi duramente conquistada.

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