domingo, 24 de fevereiro de 2008

Negócios da China

Uns meses atrás, um amigo quis me indicar na agência em que trabalha. Na hora me lembrei de que, lá, ninguém pode acessar e-mails particulares, nem alguns sites, e não se pode espetar nada nas entradas USB.
“Nem indica”, eu falei.
“Mas só por isso?”, ele perguntou.

Acontece que “isso” não é “só”. Isso de proibir o acesso integral à internet é um profundo absurdo. Fora que é burrice pura.

Antes mesmo de defender que o acesso a vários sites é pura pesquisa e referência para o bom desenvolvimento de jobs da própria agência que os proíbe, quero dizer que desmotivação, corpo mole e descomprometimento se combate colocando um bom líder para levar a equipe. E não baixando normas e procedimentos ditatoriais.

Desde quando ser obrigado a chegar às 9h em ponto e não poder acessar o messenger faz alguém mais produtivo? Posso então, nessa agência, ficar lendo um livro durante o dia? Posso chegar às 9h e tirar um cochilo até às 11h? Ou falar com meus amigos no celular horas a fio? E por que não se pode acessar e-mail particular? Para que a empresa tenha acesso ao que estamos conversando? Eu, quando não confio em alguém da equipe, mando embora. Já fiz isso, inclusive, no primeiro dia de trabalho com uma equipe que herdei montada. Estamos gerenciando equipes, dirigindo agências de comunicação, e não governando a China.

Quem enrola, enrola, com ou sem internet. Quem é mau-caráter compromete a segurança da sua informação com ou sem USB travada.
Não vamos ser cínicos nem medíocres, por favor, sim?

Se você é burro a ponto de realmente acreditar que a solução para fazer sua agência virar uma Crispin Porter é esse tipo de comportamento CDF, saiba que:

- Se você entrar na Crispin Porter agora, verá funcionários se exercitando em uma academia de ginástica, conversando largados em almofadões comendo pipoca em pleno expediente, brincando com seus pets;

- Dependendo da hora que você entrar na Glue, a mais criativa e conceituada agência digital da Inglaterra hoje, é capaz de flagrar todo o staff jogando games online, sinuca e pinball, em mesas barulhentas.

Isso só para ficar com dois dos exemplos que li recentemente.

Eu mesma sempre fui uma CDF daquelas que, se entrar no mar, enferruja. E nunca cheguei cedo, acesso 8 mil blogs e sites durante o dia, meu messenger está sempre online, passo e-mail, leio jornal, converso, canto... e minha produção é enorme. Em rapidez, comprometimento e em qualidade, modéstia nada à parte, porque esse é um retorno real, que sempre tive em absolutamente todos os lugares – que não foram poucos – em que trabalhei.

Resolvi abordar esse assunto aqui ao ler a pequena polêmica que se formou no Blue Bus semana passada. Para você que não chegou a ver: um leitor relatou que, na agência em que trabalha - uma das 50 maiores do país -, está proibido o acesso a blogs e ao YouTube.

Seguiram-se, como era de se esperar - afinal, não estamos na China - outros exemplos e opiniões contra e a favor da restrição de canais de comunicação.

Jayme Serva, da Milk, e o leitor Guilherme Jardim foram as duas opiniões que eu mais gostei e assinaria embaixo:
“Tendo a achar que o bloqueio do acesso a determinados blogs ou a censura a certos temas sao medidas retrógradas, que pouco contribuem para aumentar a produtividade. Na verdade, apenas aplacam a ansiedade de chefes e donos” (trecho do artigo de Jayme Serva)
O leitor Wilson Crestani Jr. desafiou a que sugerissem um modo de liberar o uso da internet sem ter abuso. Fácil, Wilson: aprenda a contratar, forme uma equipe criativa e competente e viva sem medo.
Por lá, quem respondeu ao Wilson foi o Guilherme: “Como fazer para impedir o abuso no uso da internet? Simples: contratem pessoas de bom-senso e avaliem seus colaboradores pelos resultados, não pelo esforço”.

By the way, sobre aquela agência que mencionei lá no início, acabamos descobrindo, com o tempo, outros motivos que mostram que seus líderes são, realmente, de uma mediocridade de pensamento ímpar. São eles que comprometem o trabalho, não a internet.

Procure sempre trabalhar em lugares que tenham gente assim ó, como o Gustavo escreveu aqui e o Marinho assinou embaixo. Esse é o principal critério para se definir um bom emprego.

2 comentários:

Marinho disse...

Robi, por vezes tenho a incômoda sensação de que o Século 22 vai chegar mas o 19 não termina para nós abaixo do Equador.
O contraponto triste do trabalho escravo que medra no Norte é o trabalho servil que prospera no Sul.
E isso acontece no meio profissional que se vende como criador de tendências!É lamantável.

Anônimo disse...

Por isso agradeço a Nossa Senhora dos Chefes por ter-me posto na sua equipe, Seu Marinhos :)
E agora na do Dudi.
Yesss!