A visão da era do romantismo sobre a inovação continua a prevalecer ainda hoje. De acordo com ela, a inovação é trabalho de um gênio solitário. No entanto existe uma visão alternativa sobre a inovação. De acordo com essa segunda visão, a inovação é gradual em lugar de súbita e coletiva em vez de individual. Por outro lado, não existe uma oposição acentuada entre tradição e inovação. É possível até mesmo identificar tradições de inovação, sustentadas ao longo de décadas, como no caso do Vale do Silício, ou de séculos, como nos campos da pintura e da escultura durante a Renascença florentina.
Muitas vezes a inovação nasce da reciclagem, do reaproveitamento ou do uso improvisado de materiais. O caso da tecnologia serve como exemplo. Na metade do século 15, Gutenberg inventou as máquinas de impressão. No entanto, prensas estavam em uso na produção de vinho havia muito tempo. Sua brilhante ideia não surgiu do nada; na verdade, representou uma adaptação da prensa de vinho a uma nova função.
A inovação nas idéias parece acontecer de maneira semelhante, pela proposição de analogias e adaptação daquilo que já existe a novos propósitos. Em todos esses casos, seria possível utilizar a expressão "tomado de empréstimo", mas metáfora melhor seria "tradução", que enfatiza o trabalho que é preciso realizar quando ideias se movimentam de um lugar ou domínio a outro.
Analogias e metáforas parecem desempenhar papel essencial no pensamento. Essas analogias são fundamentais no que se costuma designar como "paradigmas" intelectuais. Por outro lado, é difícil fazer uma lista de regras para a inovação, porque os inovadores muitas vezes quebram as regras em lugar de segui-las. Tampouco seja possível desenvolver uma “teoria da inovação”.
Mas seria seguro afirmar que analogias e adaptações têm posição central no processo de inovação.
A reciclagem intelectual é tão importante para a inovação quanto a reciclagem de objetos materiais o é para nossa sobrevivência no planeta.
Texto editado a partir de artigo de PETER BURKE para o Cardeno Mais da Folha de São Paulo de 24 de maio de 2009. Burke é historiador inglês, autor de "O Que É História Cultural?" (ed. Zahar).
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