quarta-feira, 13 de maio de 2009
Afasta de mim este cálice
Certa vez, um distribuidor de bebidas procurou a agência em que eu trabalhava para uma concorrência envolvendo uma de suas marcas.
O produto em questão era um uísque premium a ser lançado no Brasil, para o qual seria necessário um plano de marketing promocional.
Lá pelas tantas da reunião, que começou no fim da tarde e se estendeu pelo início da noite, o cliente abriu uma maleta tipo “007”, como se chamavam na época as valises de executivos, e dela sacou o tal néctar dos deuses.
Uns tantos goles “só para provar” depois, a autocensura foi afrouxando e a conversa entrou por aquele perigoso terreno da franqueza de camaradas, do qual há sempre arrependimento no dia seguinte. Foi assim, nesse clima de quase compartilhamento de segredos, que o executivo da distribuidora revelou a grande sacada de seu marketing: embora acenando para o público adulto, as ações para bebidas alcoólicas deveriam atingir principalmente os adolescentes e pós-adolescentes. O motivo: nessa idade, os jovens, para se afirmarem, se submetem a qualquer sacrifício. Tomar bebidas, em particular as destiladas, cujos primeiros goles queimam goelas virgens, é um deles. Mais tarde, acima da casa dos 25 anos, poucas pessoas se submetem a esse incômodo e, aí, adeus: perde-se um consumidor para sempre.
É lógico que o produto em questão, pelo seu altíssimo preço, não era reservado para o estrato imberbe do mercado, mas, como língua solta não tem rédeas, falou-se mais do que era necessário e devido.
Em tempo, entramos na concorrência e perdemos.
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Um comentário:
estratégia de porco capitalista!
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