sexta-feira, 27 de junho de 2008

A endemia de pormim

Outro dia, um colega de armas queixou-se de que sua agência vinha de uma série de apresentações bem-sucedidas nas quais os clientes vibravam sinceramente, mas que, depois, não viravam nada ou, na melhor das hipóteses, viravam outra coisa.

Ouvi atentamente as queixas e observei que conosco também ocorria esse fenômeno, embora houvesse as tais exceções que confirmam regras.

Numa matéria da Exame sobre um trabalho de consultoria contratado pela DM-9, sublinhou-se o fato de, entre outras barbaridades, terem localizado um job que foi refeito cento e tantas vezes. Isso mesmo, mais de cem vezes. Lembrei-me então (juro que é verdade) de quando trabalhei na Almap, nos 80, e convivi com um mesmo job por cerca de quatro anos que ia, vinha, ia, vinha e nunca foi, pelo menos enquanto militei no edifício Sta. Filippa. Não tivesse eu a auto-estima resolvida, esse trabalho teria sido meu Waterloo.

Ao longo da carreira, pude acompanhar as mudanças no perfil dos profissionais dos dois lados do balcão, sendo a crescente junioridade a principal característica desse processo.

O problema da falta de pele curtida para se puxar arrastão nesse mar da comunicação do marketing não está na inexperiência, natural quando se é aprendiz, mas na função de pré-decisão para as quais agências e clientes encaminham os gafanhotos.

Pré-decisão é a típica função de quem tem meio direito de decidir. Como não existe meio sim, a pré-decisão envolve todo o não. Ou seja, são cargos que têm toda a autoridade de recusar um trabalho, mas nenhuma de aprovar, coisa que é prerrogativa apenas dos superiores (diretores, presidentes e que tais).

Quando os pré-decisores não reprovam um trabalho ou, o mais freqüente, solicitam seguidas alterações envolvendo a agência num exercício desorientador, ele “aprovam” o trabalho dizendo o fatídico “por mim, está ok”.


Ninguém com poder de decisão usa a expressão “por mim” para dar um parecer. Quando se tornar relativa a sentença com o fatídico “por mim” é porque há um “por ele”, que é quem realmente resolve. A chance de sair de uma sala de reunião com um trabalho realmente aprovado com o selo “por mim” é mínima.

Essa população, que cresce assustadoramente no marketing e trade marketing dos clientes e também entre o pessoal das agências, é que constitui a praga do pormim que medra no mercado e faz essa profissão ser cada vez mais complicada.

Um comentário:

Panhoca; Bruno disse...

Poucas poessoas conseguem enxergar e descrever o óbvio de uma maneira tão brilhante. Parabéns por mais um post genial, Marinho.